Presidente Lula adota tom conciliador sobre a crise na Venezuela durante a Cúpula do Mercosul

Política Internacional

Em um pronunciamento surpreendente, o atual presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), adotou uma postura conciliadora em relação à crise política e humanitária enfrentada pela Venezuela. Durante a 62ª reunião de cúpula do Mercosul, realizada em Puerto Iguazú, na Argentina, Lula assumiu a presidência rotativa do bloco e aproveitou a ocasião para abordar o tema delicado.

Em sua fala, Lula reconheceu que os problemas democráticos enfrentados pela Venezuela não podem ser ignorados e devem ser enfrentados de frente. Embora não tenha detalhado os aspectos específicos do caso da candidata venezuelana, ele expressou sua intenção de se aprofundar no assunto. O presidente brasileiro destacou a importância de não se esquivar dos desafios democráticos e reafirmou seu compromisso em lidar com essas questões.

Essa declaração ocorreu em meio a uma manobra judicial do regime de Nicolás Maduro para excluir a candidata oposicionista à presidência, María Corina Machado, das eleições por 15 anos. A situação da Venezuela tem se mostrado um fator de desgaste para o terceiro mandato do presidente petista, que busca promover o retorno do país ao Mercosul. Desde sua admissão em 2012 e posterior suspensão em 2017 devido à “ruptura na ordem democrática”, a situação da Venezuela tem sido um tema recorrente nas reuniões do bloco.

O contexto se torna ainda mais delicado considerando o desafio de Lula em destravar o acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia, cujas negociações estão praticamente paralisadas desde 2019. Na segunda-feira, o bloco europeu expressou preocupação com a exclusão de María Corina e outros opositores na Venezuela, colocando em evidência a necessidade de uma posição clara sobre o tema.

Internamente, o apoio de Lula a Maduro também tem gerado críticas. Mesmo entre os partidos aliados ao governo, a visita do líder venezuelano ao Brasil em maio provocou desconforto. Carlos Siqueira, presidente nacional do PSB e dirigente máximo do partido do vice-presidente Geraldo Alckmin, destacou que além da falta de democracia, o regime venezuelano é responsável pela situação precária dos venezuelanos que pedem esmolas nos semáforos brasileiros.

Durante o encontro do Mercosul, o presidente do Uruguai, Luis Lacalle Pou, expressou sua oposição à reintegração da Venezuela ao bloco. Para ele, o Mercosul deve enviar um sinal claro de apoio à democracia plena, que ainda não existe no país vizinho. Lacalle Pou já havia manifestado surpresa com a declaração anterior de Lula, quando o brasileiro descreveu a Venezuela como vítima de uma narrativa antidemocrática e autoritária.

Essa postura de Lula em defesa do regime de Maduro tem gerado críticas em diversos setores. O jornal venezuelano El Universal, conhecido por sua independência em relação ao governo local, publicou um editorial intitulado “Lula está cego”, criticando as posições do líder brasileiro. Além disso, o jornal francês Libération classificou Lula como “A decepção” e um “falso amigo do Ocidente” em relação à sua postura diante da crise na Ucrânia e ao apoio ao regime venezuelano.

Recentemente, o presidente colombiano, Gustavo Petro, também se posicionou criticamente em relação à inabilitação eleitoral de María Corina, enfatizando que nenhum cidadão deve ter seus direitos políticos retirados por autoridades administrativas.

Diante de tais críticas e constrangimentos, Lula enfrenta um desafio político complexo. Sua postura conciliadora na cúpula do Mercosul representa uma tentativa de ajuste de tom diante das pressões internas e externas. Resta aguardar os desdobramentos dessa posição adotada pelo atual presidente brasileiro, especialmente em relação ao futuro da Venezuela no contexto do bloco e nas negociações comerciais com a União Europeia.

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