Sem ter o que investigar, Moraes prorroga inquérito contra Eduardo Bolsonaro
Nesta terça-feira (8), o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), prorrogou por mais 60 dias o inquérito que investiga o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) por sua atuação nos Estados Unidos. A decisão levanta novamente o debate sobre os limites da atuação judicial no cenário político — e parece dar eco à expressão cunhada por Donald Trump: “caça às bruxas”.
A investigação foi aberta em maio e apura se Eduardo cometeu os crimes de coação no curso do processo, obstrução de investigação de infração penal envolvendo organização criminosa e tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito. O pano de fundo? Supostas articulações feitas por ele com políticos norte-americanos para criticar o Supremo Tribunal Federal.
É difícil não ver exagero aqui. Transformar diálogo político e atuação diplomática informal — algo comum entre parlamentares em democracias maduras — em crime de “abolição do Estado Democrático de Direito” é uma acusação no mínimo desproporcional. O próprio ministro Moraes, ao justificar a prorrogação, afirmou que “ainda restam pendentes algumas diligências”, sem, no entanto, detalhar quais seriam essas medidas investigativas faltantes.
A narrativa da “ameaça à democracia” tem servido de base para decisões cada vez mais questionáveis por parte do STF, que se vê simultaneamente como vítima, investigador e julgador. Isso compromete o equilíbrio entre os Poderes e fragiliza a confiança nas instituições.
Eduardo Bolsonaro pode ter opiniões fortes e alinhamento ideológico claro com a direita americana, mas transformá-lo em criminoso por isso é perigoso. Se criticar o Supremo passou a ser crime, então já não se trata mais de preservar a democracia — mas de blindar uma instituição contra qualquer forma de oposição.
Em um momento em que o Brasil deveria estar debatendo seus reais problemas — economia, segurança, educação —, assistimos a uma judicialização da política que corrói a normalidade democrática. Não há democracia possível com silenciamento de vozes dissidentes, sejam elas polêmicas ou não.
O prolongamento dessa investigação, sem provas contundentes ou fatos novos apresentados à sociedade, beira o insano. E ridículo.
Por Gonçalo Mendes Neto – Jornalista