Estudante da USP foi presa rezando no plenário da Câmara no 8/1
A estudante de medicina da Universidade de São Paulo (USP), Roberta Jersyka Oliveira Brasil Soares, voltou ao centro das atenções após ser declarada foragida da Justiça. Roberta ganhou notoriedade ao ser flagrada rezando no plenário da Câmara dos Deputados durante as invasões aos Três Poderes, em 8 de janeiro de 2023 — cena registrada por câmeras de segurança e anexada ao inquérito do suposto golpe de Estado, atualmente sob relatoria do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
No vídeo, Roberta aparece vestida com um casaco verde, em meio a outros manifestantes. Em um momento de destaque, ela se afasta do grupo, arrasta uma cadeira, se ajoelha e encosta a cabeça no assento para orar. O gesto — interpretado por alguns como de fé, por outros como teatral — viralizou nas redes sociais e acabou se tornando uma das imagens simbólicas do 8 de Janeiro.
Prisão, tornozeleira e liberdade provisória
Logo após os atos antidemocráticos, Roberta foi detida preventivamente durante as investigações conduzidas pela Polícia Federal. Sua prisão foi mantida por sete meses, até que o ministro Alexandre de Moraes concedeu liberdade provisória em agosto de 2023, impondo medidas restritivas.
Entre as exigências estavam o uso de tornozeleira eletrônica, proibição de sair de casa à noite, restrição ao uso de redes sociais, proibição de contato com outros investigados e a obrigação de comparecer semanalmente à Justiça, sempre às segundas-feiras. Ao retornar para Fortaleza (CE), sua cidade natal, Roberta chegou a gravar vídeos mostrando a tornozeleira e declarou estar “em paz com Deus”.
Rompimento da tornozeleira e novo status de foragida
Entretanto, a situação mudou radicalmente. A Justiça do Ceará informou ao STF que, desde 25 de maio de 2024, a tornozeleira eletrônica de Roberta foi rompida e ela desapareceu. A notificação foi feita pela Coordenadoria de Monitoração Eletrônica de Pessoas (COMEP), que registrou a violação da cinta e a interrupção do sinal do dispositivo.
“Verifica-se que houve violação no dia 25/05/2024, com registro de rompimento da cinta, permanecendo nessa condição desde então”, comunicou a Vara de Execução de Penas e Medidas Alternativas da Comarca de Fortaleza.
Além disso, o ofício encaminhado ao ministro Alexandre de Moraes destaca que, desde março de 2025, Roberta não comparece ao juízo como ordenado.
Perfil da estudante e envolvimento no 8 de Janeiro
Aos 37 anos, Roberta Jersyka é filha de um segundo-tenente do Exército e já possuía diploma de engenharia antes de ingressar no curso de medicina da USP. Em 2020, mudou-se para São Paulo para estudar e, em janeiro de 2023, viajou até Brasília para participar dos atos que contestavam o resultado das eleições presidenciais, vencidas por Luiz Inácio Lula da Silva.
Ela foi identificada pela Polícia Federal nas imagens do ataque ao Congresso e indiciada por atos antidemocráticos, invasão de prédio público, e tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito. Sua prisão e posterior liberação com medidas restritivas seguiam o padrão aplicado a dezenas de outros envolvidos nas invasões.
Campanha por anistia divide opiniões
O desaparecimento de Roberta ocorre em meio a uma crescente campanha por anistia aos envolvidos no 8 de Janeiro, liderada por políticos como o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, que lançou o slogan “Eu escolho anistia”. A proposta, no entanto, divide o cenário político e jurídico do país.
Enquanto setores da direita alegam que os presos e investigados estão sendo alvo de “perseguição ideológica”, ministros do STF e entidades democráticas classificam o movimento como um risco ao estado de direito e um incentivo à impunidade.
Justiça agora busca Roberta
Com a confirmação do rompimento da tornozeleira e o não comparecimento em juízo, Roberta passou oficialmente a ser considerada foragida da Justiça. A Polícia Federal e a Justiça Federal do Ceará trabalham agora em conjunto para localizá-la. Caso seja encontrada, ela poderá perder o direito à liberdade provisória e voltar à prisão preventiva, além de responder por quebra de medidas cautelares.
O que diz a defesa?
Até o momento, os advogados de Roberta não se manifestaram publicamente sobre o novo desdobramento do caso. Tampouco foi apresentada justificativa à Justiça sobre o rompimento da tornozeleira ou ausência nas audiências semanais.
Fontes próximas ao processo indicam que a violação dos termos do habeas corpus pode dificultar futuras tentativas de defesa, inclusive em relação a possíveis pedidos de anistia ou redução de pena.
Conclusão: caso emblemático ganha novo capítulo
A trajetória de Roberta Jersyka — de engenheira e estudante da USP a figura emblemática dos atos de 8 de janeiro — agora ganha contornos de drama judicial. Considerada foragida, ela representa um dos exemplos mais visíveis do embate entre liberdade de expressão e responsabilização legal após os eventos de Brasília.
O Supremo Tribunal Federal, sob forte pressão da opinião pública, busca manter firme a linha de responsabilização pelos atos antidemocráticos. Já os apoiadores da anistia e da flexibilização penal veem em casos como o de Roberta uma oportunidade de reabrir o debate sobre o tratamento dado aos envolvidos no 8 de Janeiro.