Brasil é ‘rei das tarifas’ e Trump tende a buscar relação ‘pragmática’, diz ex-embaixador

O ex-embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Todd Chapman, fez duras críticas à política tarifária brasileira, classificando o país como um dos “reis das tarifas”. Ele afirmou que o Brasil tem se utilizado de tarifas elevadas como ferramenta de proteção da economia interna, especialmente no setor do etanol, em que as disparidades entre as tarifas brasileiras e americanas são notáveis. A declaração foi feita durante o evento Plano de Voo 2025, promovido pela Amcham Brasil, nesta segunda-feira (17).

Chapman destacou que, embora a relação dos EUA com a China deva evoluir, no que tange às tarifas, o Brasil segue uma política protecionista, que se reflete na alta taxação sobre produtos como o etanol. “O Brasil é um dos ‘reis’ do uso de tarifas para fins de proteção da economia doméstica, como vemos no etanol”, disse o diplomata, que também observou que, enquanto a China importa matérias-primas brasileiras, os EUA preferem adquirir produtos manufaturados, que, segundo ele, geram mais empregos.

O comentário de Chapman foi apoiado pelo economista-chefe do Bradesco, Fernando Honorato, que, em sua análise, afirmou que o Brasil “talvez seja o país mais fechado do planeta” e que as altas tarifas representam um risco para a reciprocidade nas relações comerciais.

Relação EUA-Brasil: Oportunidades e Desafios

Apesar das diferenças políticas, Chapman expressou otimismo quanto ao potencial de uma relação mais pragmática entre os dois países sob a nova administração de Donald Trump. Ele sugeriu que, embora as relações passadas tenham sido marcadas por tensões, existe espaço para negociação, especialmente quando o clima político melhorar. A fala do ex-embaixador, porém, também fez referência a incidentes recentes, como declarações da primeira-dama brasileira, Janja, que causaram desconforto ao ofender publicamente o bilionário Elon Musk – agora envolvido no governo Trump. Para Chapman, episódios como esse prejudicam a imagem do Brasil nos EUA.

“Estou otimista, acho que é um momento de oportunidade. Se a relação EUA-Brasil recomeçar, precisamos que as manchetes daqui sejam mais positivas. Não queremos ver elogios ao Irã ou xingamentos a Elon Musk”, disse Chapman, ressaltando que é necessário focar em uma comunicação mais construtiva entre as nações.

Desafios na Nova Administração de Trump

A análise sobre a política tarifária de Trump foi complementada por Christopher Garman, diretor executivo para as Américas do Eurasia Group, que também participou do evento. Garman foi enfático ao afirmar que a retórica do governo brasileiro em relação à “desdolarização” e outros temas, como mencionado nas reuniões dos Brics, não facilita o diálogo com os Estados Unidos.

Além disso, Garman apontou que algumas das propostas de Trump, como a imposição de tarifas de 25% sobre produtos canadenses e mexicanos, não são viáveis. “O ciclo de tarifas será mais difícil do que antes”, afirmou o especialista, referindo-se ao primeiro mandato de Trump. Para o Brasil, a negociação será mais desafiadora, e será necessário ajustar as estratégias, abordando com cautela as questões tarifárias e aproveitando as relações comerciais com fornecedores estratégicos.

O analista também alertou para as incertezas políticas e econômicas associadas ao novo ciclo tarifário nos EUA. “Trump acredita que o uso de tarifas é uma política industrial, mas muitas das propostas atuais não são executáveis”, comentou Garman, que acredita que as negociações com o Brasil serão mais complicadas do que na administração anterior.

Conclusão: O Caminho para a Diplomacia Econômica

A troca de declarações entre os especialistas e ex-embaixadores sublinha as dificuldades que o Brasil enfrentará ao tentar construir uma relação mais fluida com os Estados Unidos sob a liderança de Trump. Embora haja otimismo quanto a uma abordagem pragmática, é claro que os desafios permanecem, principalmente no que diz respeito à política tarifária e à reciprocidade comercial.

O Brasil terá que navegar cuidadosamente entre suas políticas internas de proteção econômica e a necessidade de se inserir de forma mais flexível e estratégica no cenário internacional. O futuro das relações comerciais e diplomáticas dependerá de como o Brasil se posicionará nas negociações bilaterais, principalmente em temas sensíveis como as tarifas e a proteção de setores-chave da economia.

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Bruno Rigacci

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