Divisões internas ameaçam unidade da bancada evangélica
A disputa interna pela liderança da Frente Parlamentar Evangélica está gerando um clima de tensão crescente. Com a eleição marcada para o dia 26 de fevereiro de 2025, a bancada enfrenta um dilema crucial, que pode impactar diretamente sua unidade e a direção política futura.
Divisão e Desafios Políticos
O deputado Otoni de Paula (MDB-RJ) está concorrendo à liderança, mas sua recente aproximação com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem gerado resistências dentro da bancada, especialmente entre os deputados alinhados ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Essa aliança política causou desconforto e divisões, colocando Otoni de Paula em uma posição controversa. Por outro lado, o deputado Gilberto Nascimento (PSD-SP), que mantém um forte vínculo com Bolsonaro e é apoiado por cerca de 30 parlamentares, está se posicionando como uma alternativa à liderança de Otoni. Ambos os candidatos pertencem à Assembleia de Deus, mas suas diferenças políticas estão deixando a bancada dividida.
A situação ficou ainda mais tensa devido à ameaça de alguns deputados de deixarem a Frente Parlamentar Evangélica caso Otoni de Paula seja escolhido como líder. Esse movimento reflete o impacto da polarização política nas fileiras evangélicas no Congresso e evidencia um possível enfraquecimento do grupo, que precisa de no mínimo 198 integrantes para se manter formalmente como um bloco. A bancada, que atualmente conta com 245 membros, pode enfrentar dificuldades caso a fragmentação se concretize.
Controvérsias e Alinhamentos Recentes
Otoni de Paula, que até recentemente fazia parte da base de apoio a Bolsonaro, gerou controvérsia em outubro de 2023 ao representar a bancada evangélica em uma cerimônia no Palácio do Planalto, onde Lula sancionou a lei do Dia Nacional da Música Gospel. Na ocasião, Otoni fez orações pelo presidente Lula e o elogiou, o que gerou reações negativas entre os líderes religiosos ligados a Bolsonaro. Além disso, sua aproximação com Eduardo Paes (PSD) nas eleições municipais do Rio de Janeiro ampliou a insatisfação dentro da bancada evangélica.
Em contrapartida, Gilberto Nascimento é visto como uma figura mais fiel ao legado político de Bolsonaro. Além disso, ele é um dos fundadores da Frente Parlamentar Evangélica e conta com o apoio de influentes líderes religiosos, como o pastor Silas Malafaia. Seu alinhamento com o ex-presidente e sua postura mais conservadora são vistos como um fator importante para manter a unidade do grupo.
O Futuro da Frente Parlamentar Evangélica
O atual presidente da bancada, deputado Silas Câmara (Republicanos-AM), tem se mostrado preocupado com as divisões internas e criticou as ameaças de abandono por parte de parlamentares bolsonaristas. Ele chamou essas atitudes de “covardia”, mostrando o impacto que a disputa pela liderança está gerando na coesão do grupo.
Em 2023, Otoni de Paula havia retirado sua candidatura à liderança, permitindo um acordo que resultou na presidência alternada entre os deputados Eli Borges (PL-TO) e Silas Câmara. Agora, a bancada enfrenta um cenário ainda mais complexo, onde a eleição pode definir não apenas quem será o próximo líder, mas também qual será a postura política da Frente no Congresso Nacional. A decisão de fevereiro será crucial para determinar se a bancada conseguirá superar suas divisões e manter sua unidade ou se enfrentará uma fragmentação significativa que poderá enfraquecer sua influência política.
Essa disputa interna reflete um momento decisivo para a Frente Parlamentar Evangélica, que tem sido uma das mais influentes do Congresso, mas que agora enfrenta desafios em sua coesão e identidade política. A decisão sobre sua liderança terá um impacto não apenas nas dinâmicas internas, mas também na sua capacidade de influenciar políticas públicas, especialmente aquelas relacionadas a questões religiosas e conservadoras.
