Agro e mercado reagem a Lula e preparam nova ofensiva pós-Pix

A recente decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de vetar partes importantes da reforma tributária gerou uma reação negativa das bancadas ruralista e do empreendedorismo no Congresso Nacional. Esses dois grupos, que representam setores influentes da economia brasileira, estão incomodados com a exclusão de dispositivos que impediriam a cobrança de impostos sobre os fundos de investimento imobiliários (FII) e sobre o agronegócio, especificamente no que diz respeito ao Fiagro (Fundo de Investimento do Agronegócio). Agora, essas bancadas planejam uma nova ofensiva para reverter o veto e pressionar o governo, recriando o clima de crise que marcou a recente batalha sobre as novas regras do Pix.

A Crise em Potencial: Taxação e Arrecadação

O argumento central da bancada ruralista e da Frente Parlamentar do Empreendedorismo (FPE) é que o governo insiste em aumentar a arrecadação por meio da taxação, o que, segundo eles, pode prejudicar setores chave da economia, como o agronegócio e o mercado imobiliário. Ambos os grupos acusam o Planalto de adotar uma postura fiscalista, o que pode gerar um impacto negativo na confiança dos investidores e em pequenos empreendedores, áreas que, segundo esses parlamentares, são fundamentais para o crescimento econômico.

No Legislativo, os líderes dessas bancadas já trabalham para votar a reinclusão dos trechos vetados assim que a eleição para as presidências da Câmara e do Senado for concluída, com a expectativa de que a análise ocorra logo após a aprovação do Orçamento de 2025. Esse movimento é visto como uma tentativa de pressionar o governo em um momento crucial, utilizando o veto à reforma tributária como um ponto de inflexão para ganhar apoio nas redes sociais e no Congresso.

A Bancada do Boi e o Poder no Congresso

Conhecida como a “bancada do boi”, a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) tem um peso considerável no Congresso, contando com 302 deputados e 50 senadores, o que representa 58% dos assentos na Câmara e 61% no Senado. O grupo, liderado pelo deputado Pedro Lupion (PP-PR), já anunciou que trabalhará para derrubar o veto presidencial. A força dessa bancada é vista como um obstáculo significativo para o governo Lula, principalmente pela sua capacidade de mobilizar os parlamentares em torno de pautas que afetam diretamente o setor agrícola.

A Frente Parlamentar do Empreendedorismo

A Frente Parlamentar do Empreendedorismo (FPE), que reúne 207 deputados e 46 senadores, também se posicionou contra o veto de Lula. Representando uma parcela significativa do setor privado, a FPE expressou preocupação com a possibilidade de taxação dos fundos de investimento agroindustriais (Fiagro) e imobiliários (FII), que, segundo o grupo, são essenciais para o financiamento de cadeias produtivas e para o fomento ao setor imobiliário no país. Essa bancada, liderada pelo deputado Joaquim Passarinho (PL-PA), representa 40% da Câmara e 56% do Senado, conferindo-lhe uma influência significativa nas negociações legislativas.

Governo Lula e o Desafio de Manter o Diálogo

Diante desse cenário, o governo Lula se vê diante de um dilema: como manter o apoio dessas bancadas, essenciais para sua base aliada, sem abrir mão de sua agenda fiscal. A crise do Pix, que gerou grande insatisfação entre empreendedores informais, já mostrou que o Planalto precisa ser cauteloso ao implementar mudanças que possam afetar diretamente os interesses de grandes setores econômicos. Agora, a questão tributária se apresenta como um novo campo de batalha.

O governo tem se esforçado para equilibrar a agenda de aumento de arrecadação com a necessidade de estimular o empreendedorismo, com iniciativas como o programa Acredita, que visa fomentar a formalização de pequenos negócios. O Planalto também tem um objetivo de fortalecer sua relação com o setor privado e reduzir a resistência dos empreendedores ao seu governo, especialmente com a meta de dobrar a aposta em ações de incentivo ao empreendedorismo até 2026.

Próximos Passos: Negociações e Apostas Fiscais

A expectativa é que o governo inicie uma rodada de negociações com os líderes do Congresso para tentar evitar uma nova crise como a que ocorreu com o Pix. Lula e sua equipe buscam uma solução que permita a manutenção do controle fiscal, mas que também minimize o impacto sobre os setores mais sensíveis, como o agronegócio e o mercado imobiliário. As negociações serão fundamentais para o equilíbrio político nos próximos meses, já que a oposição, com o apoio da bancada ruralista e do empreendedorismo, está pronta para intensificar a pressão no Congresso.

Assim, o futuro da reforma tributária, a reinclusão dos trechos vetados e a resposta do governo às demandas desses poderosos grupos econômicos serão questões centrais no cenário político que se desenha para 2025. O desfecho dessa nova batalha tributária poderá, mais uma vez, definir o tom das relações entre o governo Lula e setores-chave da economia brasileira.

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Bruno Rigacci

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