Acordo histórico: indígenas e fazendeiros põem fim a conflito de terra no Mato Grosso do Sul

Na quarta-feira (25), lideranças indígenas, produtores rurais, o governo federal e o governo de Mato Grosso do Sul chegaram a um acordo histórico para resolver o conflito fundiário em torno da demarcação da Terra Indígena Ñande Ru Marangatu, localizada no município de Antônio João, em Mato Grosso do Sul. A audiência de conciliação que resultou no acordo foi realizada no Supremo Tribunal Federal (STF) e conduzida pelo ministro Gilmar Mendes, relator do caso.

O Contexto do Conflito

A Terra Indígena Ñande Ru Marangatu foi demarcada em 2005, reconhecendo-a como território pertencente ao povo indígena Guarani Kaiowá. Contudo, desde então, a demarcação esteve envolvida em uma disputa jurídica, iniciada por proprietários rurais que reivindicavam a posse da terra. O conflito se arrastava por mais de 25 anos, sendo marcado por tensões entre as comunidades indígenas e os proprietários, muitas vezes culminando em confrontos violentos.

Um dos episódios mais trágicos ocorreu recentemente, com a morte do jovem indígena Neri Ramos da Silva durante um confronto no local no último dia 18 de setembro. Esse incidente foi um dos muitos momentos de violência que evidenciaram a urgência de uma solução pacífica para a questão.

Os Termos do Acordo

O acordo, mediado pelo STF, trouxe avanços significativos para a resolução do conflito. Os principais pontos incluem:

  1. Indenização aos Proprietários Rurais: A União se comprometeu a pagar um total de R$ 27,8 milhões aos proprietários rurais a título de benfeitorias em suas propriedades, conforme avaliação feita pela Funai. Esse valor será destinado às melhorias realizadas nos imóveis ao longo dos anos.
  2. Pagamento pela Terra: Além da compensação pelas benfeitorias, a União indenizará os proprietários em R$ 102 milhões pela terra. O governo de Mato Grosso do Sul também contribuirá com uma indenização de R$ 16 milhões.
  3. Desocupação Pacífica: Após o pagamento das indenizações, os proprietários terão 15 dias para deixar a Terra Indígena Ñande Ru Marangatu. O processo de desocupação será acompanhado por um esquema de segurança, garantindo que os Guarani Kaiowá possam retornar ao seu território de forma pacífica.
  4. Cerimônia de Homenagem: O acordo inclui a realização de uma cerimônia religiosa e cultural em memória do jovem indígena Neri Ramos da Silva, que perdeu a vida no recente confronto. A cerimônia será realizada no local de sua morte no próximo sábado, dia 28 de setembro, das 6h às 17h, e contará com a presença de cerca de 300 membros da comunidade indígena. A Funai e a Força Nacional estarão presentes para garantir a segurança e o respeito durante o evento.
  5. Extinção dos Processos Judiciais: Com o cumprimento do acordo, todos os processos judiciais envolvendo a disputa da demarcação da Terra Indígena serão extintos, encerrando oficialmente o conflito na esfera judicial.

Repercussão e Importância do Acordo

O acordo foi amplamente celebrado como um marco na resolução de conflitos fundiários envolvendo terras indígenas no Brasil. O governador de Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel (PSDB), ressaltou a importância histórica do entendimento, afirmando que ele põe fim a um conflito que durava mais de duas décadas e que trouxe prejuízos e tensões tanto para os indígenas quanto para os produtores rurais da região.

A participação de diversas instituições, como a Advocacia-Geral da União, o Ministério dos Povos Indígenas e a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), foi crucial para garantir que todas as partes envolvidas fossem ouvidas e que uma solução justa e pacífica fosse alcançada.

Para as lideranças indígenas, o acordo representa uma vitória após anos de luta pela recuperação de seu território. A expectativa é que o retorno à Terra Indígena Ñande Ru Marangatu seja feito de forma ordenada e respeitosa, permitindo que os Guarani Kaiowá possam finalmente habitar suas terras ancestrais em paz.

Impacto para o Futuro

Esse acordo marca um passo importante na resolução de conflitos fundiários no Brasil, especialmente aqueles envolvendo terras indígenas. Ele serve como um precedente positivo para futuros litígios e reforça a necessidade de conciliações pacíficas, que respeitem os direitos dos povos indígenas e, ao mesmo tempo, garantam compensações justas para os proprietários que serão deslocados.

Além disso, a solução encontrada reflete o papel essencial das instituições judiciais, como o Supremo Tribunal Federal, em mediar e resolver questões sensíveis e complexas como essa. A atuação do ministro Gilmar Mendes foi elogiada pelas partes, que reconheceram a importância de sua intervenção para o avanço das negociações.

A resolução do conflito da Terra Indígena Ñande Ru Marangatu é um exemplo de como o diálogo e a conciliação podem oferecer soluções pacíficas para disputas históricas. Ao garantir a indenização justa aos proprietários rurais e assegurar o retorno dos Guarani Kaiowá ao seu território, o acordo firmado representa um avanço significativo na luta pelos direitos dos povos indígenas no Brasil e reforça o compromisso do país com a resolução pacífica de conflitos fundiários.

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Bruno Rigacci

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