Recuperar o grau de investimento é possível, mas improvável no curto prazo para o Brasil

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, expressou otimismo quanto à recuperação do grau de investimento do Brasil, concedido pelas principais agências de classificação de risco. Durante sua visita a Nova York, Haddad e o presidente Lula se reuniram com executivos das agências Moody’s e S&P Global Ratings, que atualmente classificam o Brasil dois níveis abaixo desse selo. Haddad espera que a nota do país melhore já em 2024, mas Lula demonstrou ceticismo quanto à recuperação completa do grau de investimento até o fim de seu mandato, em 2026.

Apesar do otimismo do ministro, as agências elogiaram a autonomia do Banco Central, uma política que tem sido alvo de críticas de Lula. A manutenção dessa autonomia é vista como um avanço institucional relevante, mesmo que o presidente a questione publicamente. Por outro lado, a política fiscal do governo petista ainda enfrenta desafios importantes, especialmente em relação à trajetória da dívida pública e aos custos associados ao aumento dos juros e do prêmio de risco exigido pelos credores do Tesouro Nacional.

O crescimento do PIB é uma surpresa positiva para a economia brasileira, mas, isoladamente, não é suficiente para reverter o perfil negativo da dívida pública ou resolver a pressão sobre as contas do governo, exacerbada pelo aumento das transferências sociais e pela valorização do salário mínimo. Embora a inflação esteja relativamente sob controle, os gastos públicos continuam a ser uma fonte de preocupação para as agências de risco.

Haddad defende que o governo está comprometido com a responsabilidade fiscal e cumprindo as metas estabelecidas, mas atribui as fragilidades orçamentárias às heranças do governo Bolsonaro e ao Congresso Nacional. No entanto, o próprio governo petista também aumentou significativamente os gastos desde 2023, o que coloca em dúvida a eficácia das políticas fiscais atuais para garantir o equilíbrio nas contas públicas.

O selo de bom pagador foi perdido pelo Brasil em 2015, após a gestão de Guido Mantega no governo Dilma Rousseff, quando as políticas fiscais e econômicas fracassaram em conter os déficits. Hoje, o governo Lula adota uma abordagem semelhante àquela de uma década atrás, com foco no aumento das receitas sem cortes de gastos, o que pode dificultar a recuperação da classificação de risco positiva no curto prazo.

A recuperação do grau de investimento, embora possível, depende de uma reestruturação econômica mais abrangente. As reformas implementadas nos governos posteriores a Dilma, como a autonomia do Banco Central, as reformas trabalhista e previdenciária, e as privatizações, contribuíram para o crescimento do PIB e ajudaram a equilibrar as contas públicas. Essas reformas, muitas vezes criticadas pelo PT, são vistas pelas agências como fatores importantes para a estabilidade econômica do Brasil.

Embora Haddad busque promover uma justiça tributária, o cenário econômico atual e as políticas adotadas geram dúvidas sobre a viabilidade da recuperação do grau de investimento. A continuidade de déficits e a falta de cortes estruturais nos gastos são questões que as agências de risco continuam a monitorar, limitando a possibilidade de uma recuperação rápida do selo de bom pagador para o Brasil.

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Bruno Rigacci

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