Um consórcio composto por 18 empresas, incluindo algumas das principais construtoras do Brasil que já foram investigadas na Operação Lava Jato, aproveitou a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a Angola para solicitar a retomada de financiamentos no país africano. O montante requisitado para crédito pode chegar a 100 milhões de dólares (R$ 487 milhões).
Há oito anos, escândalos de corrupção expostos pela Operação Lava Jato interromperam as operações de crédito no país africano. No entanto, executivos de empresas como a Novonor (antiga Odebrecht), Andrade Gutierrez e Queiroz Galvão se reuniram com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, no luxuoso Hotel Intercontinental, na capital angolana, para buscar a reativação de projetos no país.
De acordo com uma matéria do jornal O Estado de São Paulo, Haddad instruiu os empresários a manifestarem seus interesses por meio de uma carta dirigida à sociedade, ao Poder Executivo e ao Congresso. No entanto, a relação recente entre o Brasil e Angola foi marcada por acusações de corrupção.
Por exemplo, em um acordo de leniência nos Estados Unidos, a construtora Odebrecht admitiu ter pago propinas no valor estimado de 788 milhões de dólares (R$ 3,85 bilhões) a políticos e funcionários em 12 países, incluindo Brasil e Angola.
Além disso, o próprio presidente Lula tornou-se réu em um processo penal, enfrentando acusações de corrupção, formação de organização criminosa, lavagem de dinheiro e tráfico de influência internacional, com base em delações de executivos da construtora. Esse caso ficou conhecido como “esquema Angola” e foi investigado pela Operação Janus.
Antigos executivos da Odebrecht relataram conversas nas quais supostamente solicitaram ajuda a Lula. Havia também suspeitas de repasses de R$ 30 milhões para a empresa de um sobrinho de Lula e pagamentos por palestras do ex-presidente, supostamente como contrapartida. Lula negou qualquer irregularidade, e sua defesa conseguiu encerrar o processo no Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1).
Entre 2007 e 2015, a Odebrecht obteve financiamentos de 3,3 bilhões de dólares (R$ 16,1 bilhões na cotação atual) para projetos em Angola, de acordo com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Isso incluiu fundos para a construção de duas hidrelétricas – Cambambe e Laúca – que totalizaram mais de 1 bilhão de dólares (R$ 4,88 bilhões na cotação atual).
A busca por reabertura de financiamentos por parte das empresas brasileiras em Angola ocorre em um cenário de complexas implicações políticas e éticas, à medida que o país lida com as ramificações da Lava Jato e procura estabelecer relações comerciais transparentes e benéficas para ambas as partes.