Ex-ministro do GSI é acusado de suprimir informações sobre ameaças de atentados em relatório enviado ao Congresso

Política Nacional

O ex-ministro chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) do governo Lula (PT), o general Gonçalves Dias, está sendo acusado de ter dado ordens para que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) não incluísse em um documento enviado ao Congresso informações sobre os alertas prévios que recebeu sobre as ameaças de atentados ocorridos no dia 8 de janeiro, em Brasília. A revelação foi feita pela Folha de S. Paulo.

Segundo o jornal, a Comissão de Atividades de Controle de Inteligência (CCAI) solicitou, em 9 de janeiro, que o GSI enviasse ao Congresso um relatório detalhado de todos os informes da Abin entre os dias 2 e 8 daquele mês.

Antes de chegar ao Congresso, no dia 20 de janeiro, o documento passou pelo exame de Gonçalves Dias, que determinou a exclusão dos trechos relacionados aos alertas recebidos por ele, alegando que não foram encaminhados pelos canais oficiais, mas sim através do aplicativo de mensagens WhatsApp.

O uso do WhatsApp para alertas de inteligência era comum enquanto o GSI era comandado pelo general Augusto Heleno, e a Abin estava sob a gestão do delegado e atual deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ).

Gonçalves Dias ordenou à direção da Abin que apenas os alertas feitos em grupos considerados oficiais fossem incluídos na minuta enviada ao Congresso. A versão completa do relatório foi mantida nos arquivos da Abin.

Na época, a Abin era comandada pelo oficial de inteligência Saulo Moura da Cunha, que posteriormente passou a ocupar um cargo dentro do GSI em abril. Ele foi nomeado chefe da Assessoria Especial de Planejamento e Assuntos Estratégicos, mas pediu demissão em 1º de junho.

Gonçalves Dias, por sua vez, pediu exoneração em abril, após a divulgação de imagens das câmeras de segurança do Palácio do Planalto que mostravam membros do GSI, incluindo o próprio Dias, dentro da sede durante a invasão, sugerindo uma ação colaborativa com os manifestantes.

Posteriormente, em um novo documento enviado espontaneamente ao Congresso em maio, já após sua saída do GSI, os informes sobre os riscos do dia 8 de janeiro feitos pela Abin a Gonçalves Dias foram incluídos, revelando 11 alertas que haviam sido excluídos do primeiro relatório.

A minuta também revela que as mensagens foram enviadas entre os dias 6 e 8 de janeiro, sendo três delas exclusivamente direcionadas a Gonçalves Dias. Os alertas destacavam o risco de invasão ao Congresso por manifestantes armados e ações violentas em outros prédios da Esplanada dos Ministérios.

A comparação entre as duas versões do relatório também revelou a ausência de parte dos informes enviados para a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal, também via WhatsApp, sobre o risco do dia 8 de janeiro.

O advogado de Gonçalves Dias, André Callegari, afirmou que não tem acesso aos documentos e ressaltou que o caso está sob sigilo. Callegari também mencionou que há várias investigações em curso sobre o assunto e que seu cliente tem respondido a todas as perguntas feitas nas investigações, mas não pode conceder entrevistas no momento.

Saulo Moura da Cunha, questionado sobre as orientações que recebeu de Gonçalves Dias durante seu período na chefia da Abin, afirmou que não pode se manifestar devido a restrições legais.

Tanto a Abin quanto a Casa Civil se recusaram a comentar o assunto, com cada órgão direcionando a responsabilidade para o outro. A Abin afirmou que responde à CCAI de forma exaustiva por meio de repasses ao GSI, conforme determinado por lei.

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