Ex-gerente da Petrobras recupera R$ 26,5 milhões após Dias Toffoli anular condenação da Lava Jato
Um episódio que tem causado forte repercussão no meio jurídico e político voltou a colocar a Operação Lava Jato e decisões recentes do Supremo Tribunal Federal (STF) no centro do debate nacional. O ex-gerente da Petrobras Roberto Gonçalves recuperou R$ 26,5 milhões que estavam retidos em conta judicial no Brasil. Os valores haviam sido repatriados da Suíça em 2020, no âmbito de cooperação internacional, e foram liberados após o ministro Dias Toffoli anular o processo contra ele.
A transferência do dinheiro foi concluída em 18 de dezembro. As autoridades suíças haviam identificado, ainda em 2015, contas bancárias atribuídas ao ex-executivo da estatal.
Em setembro de 2025, Toffoli determinou a nulidade de todos os atos processuais contra Gonçalves no âmbito da Lava Jato. Na decisão, o ministro afirmou que as denúncias eram “objetivamente idênticas” a outra ação já anulada anteriormente.
O caso chama atenção por uma particularidade: diferentemente de outros processos anulados, a ação penal contra Roberto Gonçalves já havia percorrido todas as instâncias do Judiciário. Em 2024, o próprio STF, em julgamento relatado pelo ministro Edson Fachin, havia mantido a condenação do ex-gerente a 17 anos e nove meses de prisão, decisão que contou com o voto favorável do próprio Toffoli à época.
Roberto Gonçalves foi preso em 2017, durante a 39ª fase da Lava Jato, e permaneceu três anos em regime fechado. Em junho de 2025, o juiz federal Guilherme Borges, responsável pela operação no Paraná, determinou o cumprimento da pena definitiva, autorizando, no entanto, a permanência do réu em prisão domiciliar com tornozeleira eletrônica.
Em outubro, a Vara de Execução no Rio de Janeiro ordenou sua soltura, em razão da decisão do STF. A liberação dos valores bloqueados demorou mais tempo porque a Petrobras tentou manter a retenção do dinheiro para eventual ressarcimento por meio de uma ação de improbidade administrativa.
No entanto, Toffoli também rejeitou o prosseguimento desse processo, após a defesa de Gonçalves alegar descumprimento da decisão anterior do Supremo. A Petrobras chegou a solicitar, no início de dezembro, que a Procuradoria-Geral da República (PGR) fosse acionada para tratar de medidas relacionadas à cooperação com a Suíça, mas a liberação acabou sendo autorizada.
A sentença proferida em 2017 pelo então juiz Sergio Moro apontava que Gonçalves teria recebido propina da Odebrecht e da construtora UTC enquanto ocupava o cargo de gerente-executivo da área de engenharia e serviços da Petrobras, entre 2011 e 2012. O processo indicava depósitos de US$ 4,1 milhões em contas suíças.
O caso de Roberto Gonçalves se soma a outros anulados por Toffoli, como os do empresário Marcelo Odebrecht e do doleiro Alberto Youssef. O ministro tem fundamentado suas decisões principalmente em dois pontos: o suposto conluio entre o então juiz Sergio Moro e procuradores da força-tarefa e o uso, nas denúncias, de elementos oriundos do acordo de colaboração da Odebrecht considerados inválidos pelo STF.
A devolução milionária reacende discussões sobre os efeitos das anulações da Lava Jato, a segurança jurídica das decisões judiciais e os impactos financeiros e institucionais dessas revisões para o Estado brasileiro.





