Carbono Oculto: PCC controla 251 postos de combustíveis em quatro Estados, aponta investigação
Uma investigação da Polícia Federal no âmbito da Operação Carbono Oculto revelou um gigantesco esquema de lavagem de dinheiro do Primeiro Comando da Capital (PCC) por meio de uma rede de 251 postos de combustíveis distribuídos entre os estados de São Paulo, Goiás, Paraná e Minas Gerais.
Com base em decisões judiciais e registros acessados pelo portal g1, a apuração aponta que, do total de postos identificados, 233 operam em São Paulo, 15 em Goiás, 2 no Paraná e 1 em Minas Gerais. Ao menos 127 postos são bandeira branca, ou seja, não estão diretamente vinculados a grandes distribuidoras — um fator que, segundo investigadores, facilita a ocultação de receitas.
Os demais operam sob bandeiras como Ipiranga, Rodoil, BR Petrobras (Vibra Energia) e Shell (Raízen). Nenhuma dessas distribuidoras, no entanto, foi alvo direto da operação.
Lavagem de dinheiro em larga escala
Deflagrada em agosto, a Operação Carbono Oculto desmantelou uma sofisticada rede de empresas e laranjas usados para lavar recursos oriundos do tráfico de drogas, fraudes previdenciárias, contrabando e outros crimes ligados ao PCC. A estimativa é que o esquema tenha movimentado bilhões de reais nos últimos anos.
A Justiça identificou ao menos 15 principais suspeitos ligados diretamente à engrenagem financeira da facção. Um dos principais nomes é o de Pedro Furtado Gouveia Neto, sócio da empresa GGX Global, apontado como proprietário de 56 postos e ligado ao grupo de Mohamad Hussein Mourad, considerado o operador central da rede e atualmente foragido.
Os principais investigados e suas ligações
Entre os nomes mais citados nos relatórios da PF e do Ministério Público, estão:
Luiz Felipe do Valle Silva do Quental de Menezes – dono de 49 postos, apontado como laranja do grupo. Ele nega envolvimento ilícito.
Guilherme da Silva Oliveira e Bruno Sato Alves Pereira – sócios de 38 postos cada; ligados ao núcleo de Mohamad Mourad.
Ricardo Romano – ligado diretamente ao PCC, com 16 postos em seu nome.
Armando Hussein Ali Mourad – irmão de Mohamad, sócio em 15 postos, apontado como um dos articuladores da estrutura.
Himad Abdallah Mourad – primo de Mohamad, com 10 postos; estruturava empresas de fachada para blindagem patrimonial.
Tharek Majide Bannout – possui 7 postos, nega envolvimento com a facção.
Luciane Gonçalves Brene Motta de Souza – controla 3 postos e é investigada por fraudes em bombas de combustível.
Rogério Garcia Peres, Miriam Favero Lopes, Valdemar de Bortoli Júnior, e as empresas Latuj Participações e Door Participações S.A. também aparecem com postos associados.
Defesa das distribuidoras
As principais distribuidoras envolvidas indiretamente no caso divulgaram notas repudiando qualquer ligação com práticas ilícitas:
Ipiranga afirmou não compactuar com irregularidades e aguarda acesso oficial aos inquéritos.
Rodoil informou ter rompido contratos com suspeitos desde março.
Vibra Energia (Petrobras) relatou ter excluído mais de 100 postos por irregularidades nos últimos dois anos.
Raízen (Shell) declarou estar apurando os fatos e reforçou compromisso com ética e transparência.
Nota da Door Participações e Bruno Sato
“A Door Participações S.A., controladora da rede de postos Alpha, e Bruno Sato Alves Pereira esclarecem que não possuem nenhum vínculo, participação ou responsabilidade nos fatos investigados pela Operação Carbono Oculto. Todos os postos operam com licenças e contratos regulares e passam por fiscalizações de praxe. A empresa reafirma seu compromisso com a legalidade, transparência e boas práticas de mercado.”
Receita e MP sob sigilo
A Receita Federal afirmou que mais de mil estabelecimentos podem ter sido usados pelo PCC para lavar dinheiro, mas a lista permanece em sigilo. O Ministério Público de São Paulo também se recusou a confirmar publicamente os nomes de todos os postos investigados.
Conclusão
A Operação Carbono Oculto expõe um dos maiores esquemas de lavagem de dinheiro já atribuídos ao PCC, mostrando como a facção criminosa diversificou seus meios de disfarçar recursos ilegais. Ao se infiltrar no setor de combustíveis — altamente pulverizado e com alta circulação de caixa — a organização construiu uma rede que se estende por diversos estados e envolve empresários, laranjas e empresas de fachada.
Com investigações em andamento e vários suspeitos ainda foragidos, a operação promete ter novos desdobramentos nos próximos meses.