Moção de Repúdio contra a jornalista Eliane Cantanhêde
Uma declaração da jornalista Eliane Cantanhêde, da GloboNews, durante o programa Em Pauta em 20 de junho, provocou intensa repercussão política e nas redes sociais. O episódio motivou a apresentação de uma Moção de Repúdio na Câmara dos Deputados, iniciativa do deputado Dr. Luiz Ovando (PP-MS), que classificou a fala como “irresponsável e desumana”.
Durante a cobertura dos recentes confrontos entre Irã e Israel, Cantanhêde utilizou o termo “mortezinhas” ao comentar as consequências dos mísseis lançados por ambos os lados. A frase, considerada insensível por críticos, foi a seguinte:
“Por que os mísseis de Israel destroem Gaza, matam milhares e milhares de pessoas, e os mísseis que saem do Irã e efetivamente caem em Israel não matam ninguém? É uma mortezinha daqui, outra dali, 23 feridos daqui, 40 dali…”
Para o deputado Ovando, a jornalista minimizou tragédias humanas e evidenciou o viés ideológico da grande imprensa. Em discurso no plenário, ele destacou que o problema vai além de um erro de linguagem:
“O que está em jogo é mais do que uma declaração infeliz. É a denúncia de um sistema de comunicação que deixou de servir à democracia para se tornar instrumento de desinformação ideológica”, afirmou.
Ovando também alertou para os riscos desse tipo de discurso, que, segundo ele, “fere o princípio da dignidade da pessoa humana” e pode colaborar para a desumanização de adversários políticos e ideológicos, comparando o fenômeno a práticas comuns em regimes autoritários.
Repercussão e pedido de desculpas
A fala repercutiu rapidamente nas redes sociais, gerando uma onda de críticas. As hashtags #RespeitoÀVida e #ElianeCantanhêde figuraram entre os assuntos mais comentados na plataforma X (antigo Twitter). Internautas acusaram a jornalista de insensibilidade diante do sofrimento causado por conflitos armados.
Diante da pressão, Cantanhêde se pronunciou também pela rede X:
“Reconheço que me expressei mal e dei margem a conclusões equivocadas… A intenção foi fazer uma pergunta técnica sobre armamentos e sistemas de defesa.”
Apesar do pedido de desculpas, muitos consideraram a retratação superficial e insuficiente. Para Ovando e outros parlamentares que apoiaram a moção, a jornalista não tratou com a devida seriedade o impacto da sua fala, principalmente diante da gravidade do tema.
Liberdade de expressão ou desrespeito?
Por outro lado, defensores da jornalista alegam que o episódio está sendo politizado e que a reação parlamentar foi desproporcional. Para esses críticos da moção, transformar uma falha de comunicação em instrumento de condenação política pode abrir precedente perigoso para a liberdade de imprensa.
Um comentarista da própria GloboNews, sob anonimato, afirmou:
“É evidente que houve um erro de linguagem, mas transformar isso em motivo para moção parlamentar pode abrir precedente perigoso para o jornalismo livre.”
Análise e contexto
Especialistas em comunicação consideram o caso um exemplo da crescente tensão entre imprensa, opinião pública e classe política. Para a professora Maria Cristina Rodrigues, da UnB, é fundamental haver responsabilidade na fala, especialmente em temas sensíveis como guerras, mas também é preciso evitar a criminalização de deslizes não intencionais:
“Em tempos de redes sociais, uma frase mal colocada pode tomar proporções enormes. Cabe ao jornalista buscar precisão e empatia, mas também cabe ao público e aos legisladores diferenciar erros pontuais de intenções deliberadas.”
A moção de repúdio, de caráter simbólico e sem efeito legal, tem como objetivo formalizar o descontentamento do parlamentar e gerar repercussão política.
O episódio envolvendo Eliane Cantanhêde se soma a outros momentos em que a imprensa foi colocada sob escrutínio público, reacendendo discussões fundamentais sobre os limites entre liberdade de expressão, ética jornalística e respeito à dignidade humana em um Brasil cada vez mais polarizado.