Moraes manda apagar fala ‘fiz cagada’ de Gonet em depoimento

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou a exclusão de um trecho do depoimento do procurador-geral da República, Paulo Gonet, durante sessão sobre o processo da tentativa de golpe de Estado, ocorrida após as eleições de 2022. O motivo: uma expressão considerada inadequada para o ambiente formal da Corte.

Durante o interrogatório do ex-ministro da Defesa Aldo Rebelo, que prestava depoimento à Primeira Turma do STF, Gonet, ao perceber uma pergunta mal formulada, comentou espontaneamente: “fiz uma cagada”. A fala, embora aparentemente despretensiosa e sem intenção de ofensa, foi considerada por Moraes como inapropriada, sobretudo pelo peso institucional da ocasião.

A decisão e seu fundamento

Imediatamente após a declaração, Alexandre de Moraes, que preside o julgamento, ordenou a retirada do trecho dos autos, com base em dispositivo do Código de Processo Penal que proíbe o uso de linguagem ofensiva, vulgar ou desrespeitosa em atos processuais. O objetivo, segundo o ministro, é preservar o decoro e a seriedade exigidos em processos judiciais — especialmente em um caso que investiga uma possível tentativa de subversão da ordem democrática.

A decisão foi interpretada como uma sinalização clara do STF sobre a importância da conduta institucional — mesmo para autoridades do mais alto escalão, como o procurador-geral da República.

Repercussão e diferentes leituras

Nos bastidores, a medida dividiu opiniões. Aliados da Corte e juristas mais alinhados ao formalismo viram a atitude de Moraes como uma demonstração de rigor necessário diante de um processo que carrega enorme simbolismo democrático. Já críticos consideraram a ação exagerada, afirmando que a expressão de Gonet foi um deslize compreensível diante da tensão do momento.

Apesar da divergência de interpretações, o procurador-geral Paulo Gonet não manifestou oposição à decisão de Moraes e seguiu normalmente com o interrogatório, mantendo a postura de equilíbrio que vem adotando à frente da PGR.

Um julgamento sob tensão

O episódio ocorre em meio ao julgamento de um dos processos mais sensíveis e históricos em curso no STF: a investigação sobre uma tentativa de golpe para impedir a posse do presidente eleito. A ação envolve figuras civis e militares e tem sido conduzida sob sigilo parcial, justamente para garantir a integridade das apurações.

Mesmo sendo um momento aparentemente menor, o incidente expõe o grau de pressão que envolve os depoimentos e a importância da linguagem institucional nos espaços de poder.

Considerações finais

A determinação de Alexandre de Moraes de excluir o comentário de Gonet dos registros oficiais reforça o cuidado do STF com a liturgia do cargo e com a condução de um processo de grande repercussão política e jurídica. Embora a declaração não comprometa o conteúdo jurídico da investigação, o episódio serve como lembrete de que, mesmo sob tensão, o decoro institucional é uma exigência — especialmente quando estão em jogo a democracia e o Estado de Direito.

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Bruno Rigacci

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