Ministério do Meio Ambiente nega proposta de erradicação da tilápia e suspende lista de espécies invasoras

O Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima negou que exista qualquer proposta para erradicar a tilápia do Brasil. A afirmação foi feita pelo ministro substituto da pasta, João Paulo Capobianco, durante audiência pública na Comissão de Agricultura do Senado Federal. Segundo ele, embora o peixe esteja classificado como espécie exótica e invasora desde 2006, o governo nunca sugeriu — nem pretende sugerir — o fim da produção da tilápia no país.

A audiência discutiu uma resolução da Comissão Nacional da Biodiversidade (Conabio) que propõe a publicação de listas nacionais de espécies exóticas invasoras. O debate foi solicitado pelo senador Jorge Seif (PL-SC), após a divulgação do documento gerar forte reação do setor produtivo, especialmente da aquicultura.

Capobianco reconheceu que a elaboração da lista provocou polêmica, mas explicou que o processo segue a legislação brasileira e atende a convenções internacionais das quais o Brasil é signatário. Diante da repercussão negativa, o governo federal anunciou a suspensão temporária do processo de elaboração do documento para ampliar o diálogo com os setores envolvidos.

Durante a audiência, o ministro destacou que a tilápia, apesar de invasora, tem relevância econômica e social, diferentemente de outras espécies que exigem controle rigoroso, como o mexilhão-dourado e o peixe-leão.

A tilápia é considerada espécie exótica por ser originária da África e ter sido introduzida no Brasil na década de 1970. Ela é classificada como invasora por seu comportamento altamente generalista, alimentando-se de algas, detritos e larvas de outros peixes, o que reduz a disponibilidade de alimento para espécies nativas. Além disso, é resistente, tolera variações de temperatura e ambientes com baixa oxigenação, características que favorecem sua criação em tanques e redes.

Segundo Capobianco, a lista em discussão inclui cerca de 444 espécies exóticas invasoras. Deste total, 146 vieram de outros países e 103 são espécies brasileiras introduzidas em biomas diferentes dos de origem, como o tambaqui criado fora da Amazônia. Na flora, são 176 espécies listadas, sendo 114 nativas do Brasil, porém deslocadas de seus biomas naturais.

“Toda espécie que não é nativa de um ambiente é considerada estrangeira”, explicou o ministro.

Capobianco enfatizou que o objetivo não é condenar a criação da tilápia nem o consumo de sua carne, considerada importante para a segurança alimentar do país. Para ele, o foco deve estar na adoção de práticas mais seguras para reduzir o escape de peixes para ambientes naturais.

“A questão é que tipo de prática podemos fazer sem inviabilizar o setor para reduzir o escape, visto que alguns modelos de redes e tanques não são mais apropriados. Publicar a lista não basta”, afirmou.

O senador Jorge Seif concordou que a adoção de sistemas anti-escape é do interesse dos próprios produtores.

“Não é só o ministério que está preocupado com o escape. O primeiro interessado é o produtor. Os maiores associados do agronegócio do Brasil ficaram desesperados com o anúncio da lista”, disse.

O governo sinalizou que novas discussões serão realizadas antes da retomada do processo, com o objetivo de conciliar a proteção ambiental com a manutenção da atividade econômica e da segurança alimentar no país.

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Bruno Rigacci

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