A morte de um renomado economista, escritor e consultor brasileiro
A morte de Stephen Kanitz, anunciada na segunda-feira (24), encerra a trajetória de um dos mais influentes economistas, consultores e pensadores da administração brasileira. Kanitz morreu aos 79 anos, em São Paulo, sua cidade natal. A família decidiu não divulgar as causas do falecimento.
Reconhecido por seu impacto duradouro no meio acadêmico, empresarial e social, Kanitz construiu uma reputação sólida em São Paulo, onde dedicou décadas à formação de profissionais e à disseminação de práticas modernas de gestão, análise de risco e contabilidade aplicada.
Formação e carreira acadêmica
Graduado em Contabilidade pela Universidade de São Paulo (USP), Kanitz aprofundou sua formação com um mestrado em Administração de Empresas pela Harvard Business School, referência global em negócios. Seu retorno ao Brasil marcou o início de uma carreira transformadora. Como professor titular da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP, influenciou gerações de administradores, contadores e gestores públicos.
Contribuições para a mídia e para o pensamento empresarial
A projeção de Kanitz extrapolou as salas de aula. Em 1974, ele publicou na revista Exame o artigo “Como Prever Falências”, apresentando o algoritmo que ficaria conhecido como Termômetro de Kanitz — modelo pioneiro de avaliação de risco de crédito baseado em dados contábeis. A ferramenta democratizou o acesso ao crédito para pequenos empreendedores e segmentos tradicionalmente excluídos do sistema financeiro.
Um ano depois, em 1975, criou a edição anual Melhores & Maiores, também na Exame, introduzindo no Brasil o conceito de benchmarking empresarial. O ranking das empresas mais bem administradas tornou-se um dos levantamentos corporativos mais relevantes do país, reunindo informações de companhias responsáveis por cerca de 20% do PIB.
Kanitz também se destacou como comentarista da TV Cultura e colunista da revista Veja, especialmente na seção “Ponto de Vista”, onde abordava temas econômicos, sociais e filosóficos com tom crítico e linguagem acessível.
Prêmios e atuação institucional
Sua contribuição intelectual e profissional foi reconhecida com prêmios como ABAMEC Analista Financeiro do Ano, Prêmio ANEFAC e o Jabuti, recebido pelo livro O Brasil que Dá Certo (1994). Kanitz também integrou conselhos relevantes e atuou como árbitro da Bovespa na Câmara de Arbitragem do Novo Mercado, reforçando sua defesa da transparência e integridade no ambiente corporativo.
Engajamento social e inovação na filantropia
O engajamento social foi uma das marcas mais consistentes de sua trajetória. Em 1992, ele criou o Voluntarios.com.br, iniciativa pioneira na articulação de trabalho voluntário no Brasil. Mais tarde, lançou o Filantropia.org, uma das primeiras plataformas do país dedicadas a doações online.
Em 1994, fundou o Prêmio Bem Eficiente, que reconhecia anualmente as 50 organizações sem fins lucrativos mais bem administradas. A premiação reforçava sua convicção de que práticas de gestão eficientes eram essenciais também para o terceiro setor.
Últimos anos e pensamento intelectual
Ao longo de sua carreira, Kanitz participou de centenas de palestras no Brasil e no exterior, sempre com foco em soluções práticas para aperfeiçoar a gestão e ampliar o impacto social. Em seu blog pessoal, abordou temas como filantropia estratégica, responsabilidade social e reflexões sobre ética e existência.
Em um de seus textos sobre morte e espiritualidade, o economista se descreveu como “um ateu feliz”, afirmando que sua visão não religiosa fortalecia seu apreço pela liberdade de pensamento e por uma ética fundada na responsabilidade individual.
Stephen Kanitz deixa uma obra extensa, admiradores dentro e fora da academia e um legado que moldou profundamente o pensamento administrativo brasileiro.





