Ex-primeira ministra que governou por 20 anos é condenada à morte por repressão que matou 1.400 pessoas

A ex-primeira-ministra de Bangladesh, Sheikh Hasina, foi condenada à pena de morte por um tribunal especial do país, conforme anunciado nesta segunda-feira (17). A sentença decorre das acusações de que ela teria ordenado ou permitido a repressão violenta aos protestos estudantis de 2024, que deixaram cerca de 1.400 mortos e dezenas de milhares de feridos, segundo dados apresentados no julgamento.

Hasina, que governou Bangladesh por 20 anos — sendo 15 de forma contínua — tornou-se a líder que por mais tempo ocupou o cargo desde a independência do país. Sua trajetória política sempre esteve intimamente ligada à própria história nacional, já que ela é filha de Sheikh Mujibur Rahman, considerado o “pai da pátria” e primeiro líder de Bangladesh após a separação do Paquistão.

Ascensão e trajetória marcada por tragédias familiares

Em 1975, quando Hasina vivia no exterior, um golpe militar matou seu pai, sua mãe e três de seus irmãos. Apenas ela e sua irmã sobreviveram à tragédia. O retorno ao país, em 1981, marcou o início de sua liderança à frente da Liga Awami, partido fundado por seu pai.

Após 15 anos na oposição, Hasina assumiu o cargo de primeira-ministra em 1996, governando até 2001. Ela retornou ao poder em 2009 e lá permaneceu até agosto de 2024, quando foi derrubada por uma das maiores ondas de manifestações da história de Bangladesh, protagonizadas por estudantes e jovens trabalhadores.

Condenação e acusações

O tribunal que julgou Hasina a responsabilizou por crimes contra a humanidade, alegando que ela:

  • teria ordenado ações violentas contra manifestantes;

  • não teria tomado medidas para impedir o uso excessivo de força pelas forças de segurança;

  • utilizou instrumentos estatais para reprimir opositores.

A defesa da ex-premiê afirma que ela não teve julgamento justo e que a decisão tem motivação política.

Legado dividido

Durante seus mandatos, Bangladesh apresentou significativo crescimento econômico, redução da pobreza e expansão de setores industriais, como o têxtil. No entanto, sua gestão também colecionou críticas:

  • perseguição a opositores;

  • censura e restrições à imprensa;

  • uso de leis de segurança digital para prender jornalistas e ativistas;

  • denúncias de abusos por forças de segurança.

Hasina deixou o país após ser removida do cargo e vive atualmente no exterior. A sentença reacende o debate interno e internacional sobre seu legado — visto por parte da população como símbolo de estabilidade, e por outra parcela como representação de autoritarismo.

Repercussão internacional

Organizações de direitos humanos e líderes políticos de diversos países manifestaram preocupação com a sentença e com a escalada de tensões no país. Especialistas alertam que a decisão pode agravar as divisões internas em Bangladesh, que se prepara para um novo ciclo eleitoral.

O caso segue em ampla discussão dentro e fora do país, enquanto Bangladesh enfrenta um dos momentos mais conturbados de sua história recente.

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Bruno Rigacci

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