A cada 3 dias a “soberania” bate a porta de um cidadão cearense e o expulsa de sua própria casa

De janeiro de 2024 a setembro de 2025, o Ceará registrou 219 casos de “deslocamento forçado” – expulsões de moradores promovidas por facções criminosas –, segundo relatórios da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS). O número equivale, em média, a uma ocorrência a cada três dias, revelando a dimensão crescente do fenômeno no estado.

Fortaleza lidera registros e já soma 49 bairros afetados

A capital concentra a maior parte das expulsões: 143 casos, distribuídos por 49 bairros. As ocorrências envolvem conflitos entre grupos rivais e ações de intimidação direta contra famílias, que são forçadas a abandonar suas casas sob ameaça.

O relatório da SSPDS está vinculado ao inquérito do 30º Distrito Policial (30º DP), que apura a prisão em flagrante de dois suspeitos ligados ao Terceiro Comando Puro (TCP).
Gleilson dos Santos Rosa e José Vitório Barbosa da Silva teriam expulsado moradores do Condomínio José Euclides, no Jangurussu, em 29 de outubro. Eles também são investigados pelo roubo de pertences das famílias afetadas. A Justiça já decretou prisão preventiva para ambos.

Região Metropolitana registra avanço das expulsões

Na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), as expulsões têm se intensificado nos últimos meses.
O município de Maranguape foi o que apresentou o maior número de casos na RMF, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2025. Só no bairro Novo Maranguape, foram registradas 11 expulsões.

Em Pacatuba, embora apenas duas ocorrências tenham sido oficialmente registradas, mais de 30 famílias do Jacarezal relataram ameaças em setembro deste ano, indicando subnotificação nos dados formais.

Além disso, três homicídios ocorridos no mesmo período estão sob investigação por possível relação com conflitos envolvendo Comando Vermelho (CV), Primeiro Comando da Capital (PCC) e TCP.

Interior também enfrenta escalada de conflitos

No interior, Sobral aparece como a cidade com maior número de casos: sete expulsões entre 2024 e 2025. As ocorrências foram registradas nos bairros Centro (3), Sumaré (2), Caiçara (1) e Santa Casa (1).
Em seguida vem Quixadá, com duas expulsões confirmadas.

A situação em Morada Nova preocupa autoridades. Em Uiraponga, diversas famílias abandonaram suas casas após ameaças diretas atribuídas a facções. O distrito sofreu um esvaziamento repentino, que afetou rotinas e atividades econômicas locais.

Expansão territorial das facções intensifica vulnerabilidade social

Segundo o Departamento de Repressão ao Crime Organizado, a lógica dessas expulsões está ligada ao avanço estratégico das facções no estado:

“Essas organizações estão ampliando seu domínio sobre áreas urbanas e periféricas para controlar o tráfico de drogas e extorquir moradores e comerciantes.”

O avanço das disputas territoriais tem provocado vilas desertas, deslocamento interno de famílias e um cenário crescente de instabilidade nas comunidades atingidas. Enquanto isso, autoridades afirmam reforçar investigações e operações para conter a expansão do crime organizado.

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Bruno Rigacci

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