A jogada genial de Cláudio Castro que poucos perceberam

O governador do estado do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, acertou o foco. Em uma ofensiva pública de visibilidade nacional, ele exaltou operações que alcançaram mais de 120 presos ou lideranças do crime organizado, anunciando inclusive a caracterização de “terrorismo” em ataques coordenados contra transporte público.  A repercussão foi imediata e alta — mídia nacional, debates políticos, tensão com facções e expectativa de resposta do Judiciário.

No meio desse cenário, o tribunal eleitoral do estado (Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro, TRE-RJ) retomou um processo que pode cassar o mandato de Castro — sob acusação de abuso de poder político e econômico durante sua eleição em 2022.  O verdadeiro desfecho ainda é incerto. A ministra Cármen Lúcia, à frente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), surge como figura central no encaminhamento desse processo — ou em seu eventual prolongamento.

O contexto da ofensiva estadual

Castro emergiu com um discurso forte contra as facções criminosas, alegando que ataques em massa — como incêndio de ônibus, bloqueios de vias e retaliação coordenada — configurariam não apenas crime comum, mas “terrorismo”. Ele reivindica cooperação federal, transferências de presos de alta periculosidade para penitenciárias federais e uma linha de abordagem mais agressiva frente ao narcotráfico e à milícia. Para muitos, trata-se de um “movimento de risco”: enfrentar organizações internas com ramificações internacionais, como você mencionou.

O processo eleitoral que ameaça o mandato

Paralelamente, pesa sobre Castro um processo no TRE-RJ que acusa ele e seu vice de irregularidades na campanha de 2022: contratos, sub-contratações, uso de entidades estatais, descentralização de recursos. Em 30 de janeiro de 2025, o relator pediu vista e adiou a decisão para 4 de fevereiro.Mais recentemente, o TSE marcou julgamento de recurso que pode levar à cassação. Vale destacar: em fevereiro o TRE-RJ absolveu Castro em um processo distinto de gastos de campanha.  Isso mostra que a situação é mais complexa do que “já cassado” ou “salvo”.

O papel de Cármen Lúcia e o ambiente institucional

Ao assumir a presidência do TSE em junho de 2024, Cármen Lúcia reforçou que “o medo não tem assento em alguma casa de Justiça”. Sua corte está diante de processos de grande impacto institucional e político. Assim, a decisão sobre Cláudio Castro será acompanhada não apenas como um caso local, mas como sinal de como a Justiça eleitoral lida com governantes regionais sob acusação de abuso de poder. Se cassar, será visto como recado forte ao poder político; se não cassar — especialmente após combate público ao crime — poderá ser interpretado por alguns como descompasso entre discurso e punição.

Quais são os cenários possíveis?

  • Cassação imediata: Se o TRE-RJ ou o TSE julgar pela cassação, Castro perderia o mandato e haveria eleição ou sucessão de acordo com a lei estadual. Seria um forte sinal de independência institucional e de que governadores não estão acima do processo eleitoral.

  • Adiamento ou suspensão: Caso o julgamento seja empurrado para 2026 (há previsão de pedido de vista que estenderia o caso). Isso faria o processo se arrastar, diminuindo o impacto imediato e talvez acomodando interesses políticos.

  • Decisão absolutória: Se o processo for arquivado ou julgado improcedente – o que já ocorreu em outro processo contra Castro. Nesse caso, pode fortalecer o governador, mas também poderá gerar críticas sobre seletividade ou falta de rigidez institucional.

E a “guerra ao narcoterrorismo” globalmente?

Você mencionou que com Donald Trump declarando guerra ao narcoterrorismo e facções brasileiras prestes a serem declaradas terroristas, a decisão sobre Castro ganha repercussão internacional. De fato, o discurso de que facções criminosas brasileiras teriam apoio internacional e conexão com redes de narcotráfico fortalece a narrativa de que ações estaduais são parte de um tabuleiro global. No entanto, até o momento, não há confirmação pública de que o governo brasileiro tenha formalmente declarado essas facções como terroristas por meio de lei federal (pelo menos nas fontes verificadas).

Conclusão

O governador do Rio mexeu realmente em um vespeiro gigantesco, como você colocou — ao combinar ofensiva de segurança de alta visibilidade com risco político-institucional altíssimo. A cassação de Cláudio Castro não está liquidada; está em disputa. A publicação e repercussão internacional das operações contra o crime organizado não garantem imunidade para o processo eleitoral que o ameaça.

Logo, a afirmação de que “alguns jornalistas de prestígio dão Castro como já cassado” não encontra respaldo nos fatos públicos até o momento — o processo ainda corre. Em todo caso, o desfecho será acompanhado com atenção redobrada.

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Bruno Rigacci

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