Aliança LGB amplia atuação no Brasil e propõe separação entre orientação sexual e identidade de gênero
A Aliança LGB, organização fundada no Reino Unido em 2019, está expandindo sua presença no Brasil com uma proposta que busca diferenciar as pautas de orientação sexual das questões de identidade de gênero. O grupo, que atualmente reúne cerca de 50 integrantes no país, defende que os direitos de lésbicas, gays e bissexuais devem ser fundamentados no reconhecimento do sexo biológico, rompendo com as letras “TQIA” da tradicional sigla LGBTQIA+.
O manifesto internacional da Aliança foi lançado em setembro de 2025 e já alcançou 17 países além do Reino Unido. No Brasil, a organização concentra esforços em duas frentes principais: preservar o conceito de sexo biológico em documentos oficiais e garantir o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Divergências conceituais
A principal diferença entre a Aliança LGB e o movimento LGBTQIA+ tradicional está na definição de gênero. Para o grupo, o gênero é uma construção social relacionada ao sexo biológico determinado no nascimento, enquanto a comunidade trans entende o gênero como uma identidade independente das características biológicas.
“Ignorar a realidade biológica e a existência do sexo é também negar a existência da atração sexual por pessoas do mesmo sexo”, afirma o manifesto, destacando as implicações dessa diferença conceitual para homossexuais e bissexuais.
A Aliança também se opõe a procedimentos de transição de gênero em menores de idade. Na semana passada, o grupo tentou participar como parte interessada na ação do Supremo Tribunal Federal (STF) que analisou a constitucionalidade da resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM) sobre cirurgias e tratamentos hormonais em jovens trans. A tentativa, no entanto, não se concretizou antes da decisão do plenário, que manteve as restrições previstas na norma.
Para os membros da Aliança, questões como essa devem ser tratadas “com base em evidências científicas, especialmente quando envolvem crianças e adolescentes em procedimentos irreversíveis”.
Acusações e defesa
O posicionamento do grupo tem gerado críticas de transfobia e acusações de alinhamento com setores conservadores — alegações que seus integrantes rejeitam.
“Discordar de políticas e ideologias não é o mesmo que discriminar pessoas”, afirmam. “Nosso compromisso é com a realidade material, a ciência e os direitos humanos universais.”
A Aliança se define como suprapartidária, afirma não receber financiamento externo e declara-se aberta ao diálogo “com todos os setores da sociedade”. Segundo seus representantes, as críticas não são dirigidas às pessoas trans, mas ao que chamam de ‘ideologia de gênero’ e às políticas públicas que derivam desse conceito.
Metas no Brasil
Entre os objetivos do grupo para o Brasil está a proposição de uma legislação específica para o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
“Queremos um projeto de lei que assegure a manutenção do casamento igualitário e a contagem precisa de crimes motivados por orientação sexual, sem distorções que ocorrem quando gênero e sexo são tratados como sinônimos”, explicam.
Outro ponto defendido pela Aliança é a retomada de pautas específicas de lésbicas, gays e bissexuais, que, segundo o grupo, teriam sido “ofuscadas” pelo avanço das teorias de gênero nos últimos anos.
Reações do movimento trans
A Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais), uma das principais entidades brasileiras de defesa dos direitos trans, contestou a posição da Aliança LGB.
“A luta do movimento LGBTQIA+ só será completa quando for por todas as pessoas, incluindo travestis e pessoas trans”, afirmou a entidade em nota. “A separação proposta pela Aliança não fortalece o movimento — ao contrário, fragmenta uma luta que deve ser coletiva e solidária.”
Próximos passos
Para os próximos anos, a Aliança LGB pretende ampliar sua atuação no Brasil, buscando parcerias com organizações que compartilhem sua visão sobre direitos baseados no sexo biológico e na orientação sexual. O grupo aposta em um crescimento gradual, apoiado em debates públicos e ações jurídicas estratégicas.





