Sob investigação por fraude bilionária, Contag mantém influência no governo e se prepara para representar agricultores na COP30

Mesmo sob investigação da Polícia Federal (PF) e do Ministério Público Federal (MPF) por suspeita de envolvimento em um esquema bilionário de descontos indevidos em benefícios do INSS, a Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares) mantém prestígio político no governo e prepara uma ampla participação na COP30, conferência do clima da ONU marcada para novembro, em Belém (PA).

De acordo com as investigações, entre 2019 e 2024, a entidade teria descontado irregularmente cerca de R$ 2 bilhões de aposentadorias e pensões rurais, sem autorização dos beneficiários. O MPF apura a inclusão indevida de nomes de segurados em listas enviadas ao INSS, para cobrança de contribuições associativas.

Entidade sob investigação, mas presente no governo

Apesar das denúncias, a Contag segue ocupando espaços estratégicos em conselhos e órgãos federais. Em maio deste ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva nomeou duas representantes da confederação para o Conselho Nacional de Segurança Alimentar (Consea). Meses depois, a entidade conquistou mais uma vaga no Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa Idosa.

As indicações geraram reações divididas:

  • Críticos apontam um movimento de blindagem política, mesmo diante de indícios de fraude.

  • Aliados do governo argumentam que a Contag representa um setor vital da agricultura familiar e das pautas sociais no campo.

COP30: da crise ética ao palco ambiental

Mesmo imersa em controvérsias, a Contag anunciou que levará mais de mil integrantes para a Cúpula dos Povos, evento paralelo à COP30 que reúne movimentos sociais e ONGs de todo o mundo. A entidade também obteve autorização para realizar um painel oficial na Zona Azul, área de negociações entre governos e organismos internacionais, o que lhe garante visibilidade diplomática.

A secretária de Meio Ambiente da confederação, Sandra Paula Bonetti, defendeu a presença da entidade no evento:

“A COP30 será histórica e precisamos estar com força política e capacidade de incidência. […] Vamos levar a voz da agricultura familiar e das populações do campo, da floresta e das águas na defesa de uma transição agroecológica e com justiça social e climática.”

No entanto, especialistas e analistas do setor enxergam o discurso como uma tentativa de reconstruir a imagem pública da organização, abalada por denúncias de exploração financeira de agricultores idosos e vulneráveis.

Contradição exposta: da denúncia à diplomacia climática

As suspeitas contra a Contag envolvem descontos automáticos não autorizados em aposentadorias de trabalhadores rurais — muitos deles idosos, analfabetos ou sem acesso a meios digitais para contestar os valores.

Ainda assim, a entidade se mantém como uma das principais interlocutoras do Planalto em temas como reforma agrária, agricultura familiar e sustentabilidade. A presença constante em reuniões ministeriais e fóruns multilaterais contrasta com a investigação que ainda está em curso.

“É uma contradição grave. Enquanto a PF aponta possível fraude contra aposentados pobres, a mesma entidade fala em justiça climática em palco global”, afirma um procurador que acompanha o caso.

O que está em jogo

Com a COP30 vista como uma vitrine internacional para o Brasil, a participação da Contag levanta questionamentos sobre os critérios de representatividade e sobre como o país está construindo sua imagem diante da comunidade global.

O caso também coloca pressão sobre o governo Lula, que precisa conciliar alianças políticas históricas com compromissos éticos e de transparência. Enquanto isso, a investigação segue aberta, e a entidade não foi afastada formalmente de nenhum cargo institucional.

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Bruno Rigacci

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