Michelle Bolsonaro usa versículos bíblicos para alfinetar possível indicado ao STF
A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro utilizou suas redes sociais nesta sexta-feira (17) para publicar indiretas direcionadas ao advogado-geral da União, Jorge Messias, cotado como favorito do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para a vaga de Luís Roberto Barroso no Supremo Tribunal Federal (STF).
A postagem, feita nos stories do Instagram, veio após a divulgação de uma imagem do encontro entre Lula, Messias e lideranças evangélicas no Palácio do Planalto. Em reação, Michelle compartilhou uma imagem com referências a versículos bíblicos: Apocalipse 22:11, Números 24:9 e Mateus 6:24 — passagens tradicionalmente utilizadas em contextos de juízo moral e fidelidade religiosa.
Entre os versículos citados, o de Mateus 6:24 foi interpretado por internautas e analistas como o mais direto:
“Ninguém pode servir a dois senhores, pois amará um e odiará o outro, ou será fiel a um e desprezará o outro.”
A publicação foi vista como um recado claro a Jorge Messias, que, embora seja evangélico, integra o governo do PT, frequentemente criticado por lideranças religiosas conservadoras — como a própria Michelle.
Reação a aproximação com evangélicos
Na quinta-feira (16), Lula recebeu no gabinete presidencial o bispo Samuel Ferreira (Assembleia de Deus de Madureira), o deputado Cezinha de Madureira (PSD-SP), além de Jorge Messias e da ministra Gleisi Hoffmann (PT), em uma movimentação interpretada como parte da estratégia do governo para se aproximar do eleitorado evangélico.
Messias, fiel da Igreja Batista Cristã, é considerado uma figura de confiança tanto do núcleo jurídico do governo quanto da base evangélica moderada. A expectativa é de que sua nomeação ao STF seja oficializada em breve, com apoio de parte da bancada evangélica no Congresso — especialmente de Cezinha, que chegou a fazer campanha por ele ainda na indicação anterior, quando Flávio Dino acabou sendo o escolhido.
Alvo recorrente de Michelle
Essa não é a primeira vez que Michelle Bolsonaro ataca nomes ligados ao governo. Recentemente, ela também criticou o procurador-geral da República, Paulo Gonet, afirmando que ele “faz jogo sujo e perverso” — após pedidos da PGR por condenações relacionadas aos atos de 8 de janeiro de 2023.
A ex-primeira-dama vem mantendo forte presença nas redes sociais, muitas vezes usando mensagens religiosas para emitir opiniões políticas, especialmente quando se trata de temas ligados à fé cristã e aos evangélicos, base eleitoral fundamental do bolsonarismo.
Religião e Supremo: uma equação política
A possível indicação de Messias ao Supremo tem gerado debate dentro e fora do governo. Aliados avaliam que sua nomeação pode ser estratégica para conter críticas de parte da bancada evangélica ao STF, além de ampliar o apoio do segmento religioso ao governo Lula com vistas às eleições de 2026.
Hoje, apenas um ministro do Supremo — André Mendonça — é evangélico. A nomeação de Messias poderia representar um avanço na representatividade do grupo na Corte, que tem sido alvo de desconfiança crescente por parte de segmentos religiosos mais conservadores.