Fux abandona o plenário do STF
Uma discussão acalorada entre os ministros Luiz Fux e Gilmar Mendes, nos bastidores do Supremo Tribunal Federal (STF), provocou grande repercussão em Brasília nesta quinta-feira (17) e reacendeu um antigo embate entre dois dos magistrados mais experientes da Corte. Segundo fontes próximas ao tribunal, Fux deixou o plenário na quarta-feira (16) após um desentendimento com Gilmar durante o intervalo da sessão.
O episódio, que não foi registrado pelas câmeras da TV Justiça, teria ocorrido diante de outros ministros e assessores, criando um clima de constrangimento interno e gerando preocupação sobre os efeitos da disputa pessoal no funcionamento institucional do Supremo.
Divergência técnica com tom pessoal
De acordo com relatos obtidos nos bastidores, a conversa entre os dois ministros começou com divergências técnicas a respeito de decisões recentes envolvendo a competência compartilhada entre o STF e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). No entanto, o debate rapidamente ganhou contornos pessoais.
Fontes relatam que Gilmar Mendes teria criticado duramente a postura de Fux em casos anteriores, acusando-o de adotar uma “postura midiática e politizada em temas sensíveis”. Fux, por sua vez, reagiu com veemência:
“Eu não aceito lições de conduta de quem faz política de toga”, teria disparado o ministro, conforme testemunhas.
A tensão teria se intensificado a ponto de Luiz Fux encerrar abruptamente sua participação na sessão plenária, deixando o recinto. A assessoria do ministro informou, de maneira protocolar, que ele teve um “mal-estar momentâneo” e optou por se retirar “para evitar o prolongamento da discussão”.
Rivalidade antiga e clima hostil
A tensão entre Gilmar Mendes e Luiz Fux não é novidade no STF. Ambos já protagonizaram embates públicos ao longo da última década. Em 2018, durante julgamento sobre foro privilegiado, Gilmar ironizou um voto de Fux, afirmando que ele criava “jurisprudência de ocasião”. Fux retrucou dizendo que Gilmar “tentava desmoralizar a Corte”.
Nos bastidores, o relacionamento entre os dois é descrito por servidores como distante e marcado por desconfiança mútua. “É uma rivalidade silenciosa, mas que às vezes transborda”, relatou um funcionário com longa atuação no tribunal.
Rosa Weber pede contenção
Fontes revelam que a presidente do STF à época, ministra Rosa Weber, teria demonstrado preocupação com o incidente e solicitado aos colegas discrição para evitar um agravamento da crise e maior exposição da Corte. Ainda assim, o episódio acabou vazando e repercutiu imediatamente entre analistas políticos, jornalistas e operadores do Direito.
Para muitos observadores, o embate não se limita a diferenças de personalidade. Representa também um choque de visões sobre o papel do Supremo. Enquanto Fux costuma adotar um estilo mais técnico e reservado, Gilmar é conhecido por sua atuação pública incisiva, críticas abertas a colegas e forte presença no debate político.
Impacto institucional e imagem pública
O episódio ocorre em meio a um momento delicado para o STF, que enfrenta crescentes críticas de setores políticos e da sociedade por sua atuação em temas sensíveis, como investigações contra parlamentares e decisões sobre liberdade de expressão nas redes sociais.
Um ministro ouvido sob condição de anonimato afirmou que episódios como este “fragilizam a imagem da Corte” e ressaltou a importância de preservar a institucionalidade: “É preciso resgatar a serenidade e o diálogo interno”.
Outro magistrado, mais crítico, comentou que o tribunal “vive um momento de egos inflados, em que cada ministro quer ser protagonista”.
Silêncio oficial e tentativa de reconciliação
Até o momento, nem Fux nem Gilmar Mendes se pronunciaram publicamente sobre a discussão. A assessoria de Fux garantiu que ele “passa bem e seguirá participando normalmente das sessões”. A equipe de Gilmar Mendes não comentou o caso.
Nos bastidores, cresce a expectativa de que ambos sejam chamados para uma conversa reservada nos próximos dias, com objetivo de amenizar o atrito e impedir que ele contamine futuras deliberações da Corte.
Independentemente dos desdobramentos internos, a discussão entre os ministros expõe mais uma fissura dentro do Supremo Tribunal Federal — justamente no momento em que a Corte é chamada a reafirmar sua autoridade, unidade e equilíbrio diante de um cenário político cada vez mais polarizado.