‘El Pollo’ Carvajal: Preso nos EUA, ex-general da Venezuela aceita acordo de delação

O ex-general venezuelano Hugo Armando Carvajal Barrios, conhecido como El Pollo, decidiu colaborar com as autoridades norte-americanas em troca de possível redução de pena. Apontado como figura-chave no chamado Cartel de los Soles, Carvajal admitiu ter participado do tráfico internacional de cocaína e afirmou que o regime chavista financiou por anos partidos e líderes de esquerda em diversos países, incluindo o Brasil.

As informações constam em documentos obtidos pelo site espanhol The Objective, divulgados nesta sexta-feira (17), e já foram confirmadas por fontes próximas ao Departamento de Justiça dos EUA. A confissão do ex-chefe da Inteligência Militar da Venezuela pode ter graves repercussões geopolíticas e judiciais na América Latina e na Europa.

Narcotráfico e narcoterrorismo

Em junho de 2025, Carvajal se declarou culpado de quatro crimes perante a Corte do Distrito Sul de Nova York:

  • narcotráfico,

  • narcoterrorismo,

  • posse de armas,

  • conspiração para uso de armas de fogo.

A acusação, feita pelo Ministério Público dos EUA, sustenta que Carvajal usou a cocaína como arma de guerra, coordenando com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) o envio de grandes quantidades da droga aos Estados Unidos. Segundo os procuradores, toneladas de cocaína passaram por rotas seguras dentro da Venezuela, com apoio direto de altos oficiais e uso da estrutura estatal, incluindo aeroportos militares e navios da PDVSA.

“Ele inundou cidades norte-americanas com veneno”, declarou um representante do Ministério Público durante a audiência.

Possível redução de pena e entrega de documentos

Pelo tamanho da colaboração, Carvajal pode ter sua pena reduzida — de prisão perpétua para até 20 anos, a depender da qualidade e veracidade das informações prestadas. O tribunal já autorizou uma audiência para analisar o conteúdo entregue por ele.

Segundo The Objective, o ex-general está disposto a “contar tudo”. Já entregou documentos inéditos sobre os vínculos entre o chavismo e as Farc, além de arquivos relacionados a financiamentos clandestinos de partidos políticos no exterior.

Financiamento internacional da esquerda

Entre os materiais entregues, destaca-se um documento de sete páginas em que Carvajal afirma que o governo venezuelano, desde os tempos de Hugo Chávez, financiou ilegalmente movimentos e lideranças de esquerda ao redor do mundo por mais de 15 anos.

De acordo com o ex-general, o dinheiro teria sido distribuído principalmente por meio da PDVSA (estatal petrolífera venezuelana), com apoio de diplomatas, agentes de inteligência e contratos fictícios.

Os líderes e partidos citados como supostos beneficiários incluem:

  • Luiz Inácio Lula da Silva (Brasil)

  • Néstor Kirchner (Argentina)

  • Evo Morales (Bolívia)

  • Fernando Lugo (Paraguai)

  • Ollanta Humala (Peru)

  • Mel Zelaya (Honduras)

  • Gustavo Petro (Colômbia)

  • Movimento Cinco Estrelas (Itália)

  • Partido Podemos (Espanha)

O documento afirma que “todos eles foram mencionados como recebedores de dinheiro enviado pelo governo venezuelano” e que a prática continuou sob Nicolás Maduro, utilizando contratos da PDVSA como fachada para transferências ilegais.

De fugitivo a colaborador

Hugo Carvajal foi extraditado da Espanha para os EUA em 2023, após dois anos foragido. Durante esse período, tentou obter asilo político e entregou documentos à Justiça espanhola alertando sobre o suposto esquema de corrupção e narcotráfico transnacional operado por Caracas.

Apelidado de El Pollo (“o frango”), Carvajal foi chefe de Inteligência Militar de Chávez por mais de uma década, ocupando um dos postos mais sensíveis do regime venezuelano.

Com sua colaboração, autoridades dos EUA esperam desvendar a teia de conexões entre o chavismo, grupos armados latino-americanos e lideranças políticas internacionais.

Repercussões

A delação de Carvajal pode gerar tensões diplomáticas e reabrir investigações em países citados como beneficiários de recursos ilegais. Até o momento, nenhum dos líderes ou partidos mencionados se manifestou oficialmente sobre as acusações.

Especialistas em relações internacionais alertam que a revelação pode ser usada politicamente em contextos eleitorais, como no Brasil e na Colômbia, e reacender debates sobre a influência do regime venezuelano fora de suas fronteiras.

Enquanto isso, o Departamento de Justiça dos EUA promete dar continuidade às investigações com base nas provas apresentadas por Carvajal. A próxima audiência está marcada para os próximos meses.

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Bruno Rigacci

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