Navio iraniano sob sanções dos EUA descarrega carga em SC
Um navio de bandeira iraniana sancionado pelo governo dos Estados Unidos atracou nesta terça-feira (8) no Terminal Portuário de Santa Catarina, localizado em São Francisco do Sul. A embarcação, identificada como Delruba, trouxe ao Brasil cerca de 60 mil toneladas de ureia — fertilizante amplamente utilizado na agricultura — produzidas pela empresa iraniana Pardis Petrochemical Company, vinculada à Guarda Revolucionária do Irã, organização classificada por Washington como grupo terrorista.
A operação de importação foi revelada por documentos de aduana obtidos pelo portal Claudio Dantas. Segundo os dados, a carga foi comprada pela empresa brasileira Link Comercial, utilizando como intermediária a Eastoil Petroleum Products, sediada nos Emirados Árabes Unidos. A manobra tem como objetivo contornar as sanções econômicas impostas pelos Estados Unidos ao regime iraniano e suas entidades vinculadas.
Violações de sanções e riscos
O navio Delruba está listado pelo Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros (OFAC), órgão do Departamento do Tesouro dos EUA responsável por aplicar sanções econômicas internacionais. De acordo com as normas do OFAC, qualquer pessoa física ou jurídica que realize transações com empresas ou entidades sancionadas pode ser alvo de sanções secundárias, o que inclui restrições comerciais e bloqueio de ativos em território americano.
A empresa produtora da ureia, Pardis Petrochemical Company, é ligada à poderosa Guarda Revolucionária Islâmica, entidade militar e política que exerce forte influência dentro e fora do Irã. A ligação direta com essa estrutura torna qualquer transação especialmente sensível no cenário internacional.
Crescente dependência da ureia iraniana
Apesar das sanções, o Irã vem se consolidando como um dos principais fornecedores de ureia para o Brasil, ocupando atualmente o terceiro lugar entre os maiores exportadores do insumo para o mercado nacional. Essa escalada tem ocorrido por meio de triangulações comerciais com empresas intermediárias, principalmente sediadas no Oriente Médio.
Especialistas alertam que a prática pode representar riscos jurídicos e financeiros a empresas brasileiras envolvidas, assim como aos bancos e instituições financeiras que processam os pagamentos — potencialmente sujeitos a medidas punitivas por parte dos EUA.
Repercussão e silêncio oficial
Até o momento, nem o governo brasileiro nem o Ministério das Relações Exteriores se pronunciaram sobre a atracação do navio sancionado ou sobre eventuais consequências diplomáticas. A movimentação ocorre em um momento de crescente escrutínio internacional sobre as relações comerciais com países e entidades sob sanções econômicas.
O episódio levanta questionamentos sobre a eficácia dos mecanismos de controle em portos brasileiros e sobre a postura do governo diante de possíveis riscos geopolíticos e comerciais, especialmente em meio às tensões globais envolvendo o Irã e países do Ocidente.