Alvo da CPMI do INSS pagava R$ 196 mil por mês de aluguel em mansão ligada a esquema bilionário

A suntuosa mansão localizada no número 371 da Rua Alemanha, no bairro nobre do Jardim América, em São Paulo, voltou ao centro das atenções em meio às investigações da Polícia Federal e da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS. O imóvel, conhecido por abrigar um jardim de R$ 22 milhões construído pelo empresário Maurício Camisotti, é alugado desde 2017 pelo advogado Nelson Wilians Fratoni Rodrigues, que paga atualmente R$ 196.292,00 por mês — valor equivalente a quase 130 salários mínimos.

Mais do que ostentação, os investigadores veem na mansão um forte indício de suposta lavagem de dinheiro vinculada ao esquema bilionário de fraudes contra aposentados e pensionistas do INSS. Segundo documentos obtidos pelo Diário do Poder, Wilians firmou o contrato de locação com a empresa BRAEMP – Brasil Empreendimentos e Participações Ltda., em junho de 2017. Em 2022, o acordo foi renovado por mais três anos.

Suspeitas e movimentações bilionárias

As autoridades apuram se o imóvel e a operação imobiliária de expansão — que incluiu a compra do terreno vizinho — teriam sido utilizados para lavar dinheiro desviado do INSS por meio de contratos fraudulentos e associações de fachada. A construção do jardim milionário pelo empresário Camisotti, hoje preso, é apontada como parte da engrenagem de dissimulação de patrimônio ilícito.

As investigações revelam ainda que, entre 2016 e 2022, Nelson Wilians transferiu diretamente R$ 15,5 milhões para Camisotti. Relatórios do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) identificaram que o advogado movimentou cerca de R$ 4,3 bilhões entre 2019 e 2024 — volume considerado altamente incompatível com sua atuação na área jurídica, segundo investigadores.

Esses elementos levaram a Polícia Federal a solicitar sua prisão preventiva, negada pelo ministro André Mendonça, do Supremo Tribunal Federal (STF). Apesar da negativa, a CPMI do INSS reiterou o pedido ao Supremo.

Depoimento cercado de tensão e silêncio

Nelson Wilians prestou depoimento à CPMI em 18 de setembro, inicialmente na condição de testemunha, mas já sob investigação formal. Amparado por um habeas corpus preventivo concedido pelo STF, ele optou por permanecer em silêncio na maior parte das perguntas feitas por parlamentares.

Em raras manifestações durante a sessão, negou envolvimento direto nas irregularidades, mas não explicou a origem dos recursos usados para pagar o aluguel da mansão, tampouco o motivo das transferências milionárias a Camisotti.

Defesa ausente

A reportagem procurou o advogado Santiago Schunck, que representa Nelson Wilians, para esclarecer:

  • A origem dos recursos utilizados no pagamento da mansão;

  • A relação comercial ou pessoal com Maurício Camisotti;

  • A possível conexão entre os R$ 4,3 bilhões movimentados e o esquema de descontos associativos sobre benefícios do INSS.

Schunck informou que, até o momento, não conseguiu contato com seu cliente. O espaço permanece aberto para manifestação da defesa.

O próximo passo

Com as investigações em curso e o cerco político se fechando, o caso de Nelson Wilians deve se tornar um dos pontos centrais da CPMI do INSS nos próximos meses. A possível conexão entre o advogado e o núcleo financeiro do esquema bilionário pode desencadear novas quebras de sigilo bancário, fiscal e telemático, além de acirrar o debate sobre o papel de grandes escritórios de advocacia em operações suspeitas de movimentação de recursos públicos.

Compartilhe nas redes sociais

Bruno Rigacci

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Este site usa cookies para garantir que você tenha a melhor experiência em nosso site! ACEPTAR
Aviso de cookies