Sindicato ligado a irmão de Lula pagou R$ 8,2 milhões a empresas de familiares de dirigentes

O Sindicato Nacional dos Aposentados e Pensionistas (Sindnapi), entidade ligada à Força Sindical, é alvo de uma investigação da CPMI do INSS no Congresso Nacional por supostos repasses irregulares que somam R$ 8,2 milhões a empresas controladas por familiares de dirigentes do sindicato. As informações constam em um relatório de inteligência financeira do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), revelado pelo portal Metrópoles.

Entre os investigados está o vice-presidente do Sindnapi, José Ferreira da Silva, o Frei Chico, irmão mais velho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A presença de Frei Chico na diretoria da entidade adiciona um componente político sensível à apuração, já que o sindicato é historicamente alinhado ao campo da esquerda e à base sindical do governo.

Segundo o relatório, os pagamentos ocorreram entre 2019 e 2025 e tiveram como destino empresas pertencentes a familiares de Milton Baptista de Souza Filho, o Milton Cavalo — atual presidente do Sindnapi — e de João Batista Inocentini, o João Feio, ex-presidente da entidade, falecido em 2023.

Repasses milionários a familiares de dirigentes

Um dos casos destacados é o pagamento de R$ 3,1 milhões ao escritório de advocacia de Carlos Afonso Galletti Júnior, genro de João Feio. Galletti é casado com Tonia Galletti, filha do ex-presidente do sindicato e atual coordenadora jurídica da entidade.

Outro valor expressivo, de R$ 2,7 milhões, foi destinado à Gestora Eficiente Ltda., empresa também ligada a Galletti e à esposa de Milton Cavalo, Daugliesi Giacomasi de Souza. A empresa era responsável por processar as fichas dos aposentados e recebia comissão por cada desconto feito na folha de pagamento.

Além disso, R$ 2,2 milhões foram pagos à Esférica Assessoria e Sistemas de Informática Ltda., controlada por Carlos Eduardo Teixeira Júnior, cunhado de Tonia Galletti. A empresa prestava serviços ao sistema de gestão dos descontos aplicados pelo sindicato aos aposentados e pensionistas.

Suspeita de autocontratação indireta

O relatório do Coaf aponta indícios de “autocontratação indireta”, prática na qual dirigentes canalizam recursos da entidade para empresas controladas por parentes, configurando possível conflito de interesses e má gestão de recursos.

Até o momento, o Sindnapi não apresentou justificativas públicas para os pagamentos. A CPMI do INSS segue investigando o caso dentro de uma apuração mais ampla sobre supostos desvios em descontos feitos diretamente na folha de pagamento de aposentados — mecanismo que movimentou, durante anos, milhões de reais sem fiscalização rigorosa.

Implicações políticas e novos desdobramentos

A proximidade entre os dirigentes do Sindnapi e o presidente Lula, por meio do irmão Frei Chico, gera repercussões políticas dentro e fora do Congresso. A investigação reacende o debate sobre a influência político-sindical na administração de recursos de aposentados.

A CPMI já identificou padrões semelhantes em outras entidades sindicais, e o material coletado pode embasar novos desdobramentos da investigação. O caso é considerado um dos mais relevantes na chamada “Farra do INSS”, que mira práticas suspeitas dentro do sistema sindical que, por décadas, operou com baixa transparência e alta rentabilidade para seus dirigentes.

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Bruno Rigacci

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