Barroso diz ter votado “com dor no coração” por prisão de Lula
O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luís Roberto Barroso, afirmou em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo que não se arrepende de ter votado contra o habeas corpus preventivo do então ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em 2018, decisão que viabilizou a prisão do petista após sua condenação na Operação Lava Jato. Apesar disso, Barroso admitiu ter dado o voto “com dor no coração”.
“Vamos supor que eu tivesse votado no presidente Lula, vamos supor que eu gostasse do presidente Lula. Mas eu sou um juiz. Eu devo mudar a jurisprudência porque eu quero bem ao réu? Ou meu papel é aplicar a jurisprudência? (…) Portanto, eu apliquei, ao presidente Lula, com dor no coração, a jurisprudência que eu tinha ajudado a criar”, afirmou o ministro.
Na ocasião, Lula havia sido condenado a 12 anos e 1 mês de prisão pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, no caso do triplex do Guarujá (SP). A decisão foi tomada com base no entendimento vigente à época no STF, de que a pena poderia começar a ser cumprida após condenação em segunda instância.
O julgamento do habeas corpus, em abril de 2018, terminou com placar apertado: 6 votos contra e 5 a favor da liberdade de Lula. Além de Barroso, votaram contra o pedido os ministros Edson Fachin, Alexandre de Moraes, Rosa Weber, Luiz Fux e Cármen Lúcia. Já Gilmar Mendes, Dias Toffoli, Ricardo Lewandowski, Marco Aurélio Mello e Celso de Mello foram favoráveis ao habeas corpus.
Dois dias depois da decisão, em 7 de abril de 2018, Lula se entregou à Polícia Federal e foi preso em Curitiba, onde permaneceu por um ano e sete meses. O petista só foi libertado em 8 de novembro de 2019, após o próprio STF reverter o entendimento anterior e decidir que a pena só pode ser executada após o trânsito em julgado — ou seja, quando todos os recursos se esgotarem.
Lula “carismático e sedutor”, diz Barroso
Durante a entrevista, Barroso também fez elogios à personalidade de Lula, destacando seu carisma e capacidade de conquistar as pessoas.
“O presidente Lula é uma pessoa muito agradável e carismática. Logo que ele se elegeu, veio na minha casa, ainda antes da posse. Minha sogra, que é holandesa, não tinha muita simpatia por ele. Mas, em dez minutos, Lula arrumou uma fã apaixonada. Ele tem a capacidade de seduzir as pessoas”, relatou o ministro.
STF poderá ter maioria de ministros indicados por Lula, caso ele seja reeleito
O cenário atual indica que, caso Lula seja reeleito em 2026, ele poderá consolidar uma maioria de ministros indicados por seu governo no Supremo Tribunal Federal. Com a aposentadoria de alguns ministros prevista para os próximos anos, o presidente da República tem a prerrogativa de escolher novos nomes para a Corte, o que pode alterar o perfil político e jurídico do tribunal nos próximos anos.