Secretário de Comércio dos EUA afirma que é preciso “consertar” o Brasil
O secretário de Comércio dos Estados Unidos, Howard Lutnick, afirmou neste sábado (27) que o Brasil está entre os países que “precisam ser consertados” para deixar de prejudicar os interesses econômicos dos EUA. A fala foi dada em entrevista ao canal NewsNation, no contexto das medidas protecionistas adotadas pelo governo de Donald Trump em sua nova gestão.
Segundo Lutnick, o Brasil, ao lado de Índia e Suíça, tem criado obstáculos ao comércio internacional de forma contrária aos interesses americanos.
“Temos um monte de países para resolver, como a Suíça, o Brasil. Eles têm um problema. A Índia também. Estes são países que precisam reagir corretamente à América, abrir os seus mercados, parar de tomar ações que prejudicam a América”, afirmou o secretário.
“Se querem vender para os EUA, têm que cooperar”, diz Lutnick
O tom duro da entrevista expõe o momento de desacordo comercial entre Washington e Brasília, agravado desde julho, quando Trump impôs tarifas sobre produtos brasileiros, incluindo aço, alumínio e itens agrícolas. O movimento, apelidado de “tarifaço”, surpreendeu setores do agronegócio e da indústria brasileira, além de gerar preocupação em diplomatas.
“É por isso que estamos em desacordo com eles. E eles precisam entender que, se querem vender para o consumidor dos EUA, têm que cooperar com o presidente dos Estados Unidos”, acrescentou Lutnick.
A retórica se alinha à estratégia do novo governo Trump de pressionar países a reduzir barreiras comerciais e abrir seus mercados internos como condição para manter relações comerciais favoráveis com os EUA.
Reação no Brasil e impacto político
A declaração ocorre em um momento delicado para o Brasil no cenário internacional. O governo Lula ainda não se pronunciou oficialmente sobre as falas de Lutnick, mas interlocutores do Itamaraty classificam os comentários como “agressivos” e “fora do padrão diplomático”.
Nos bastidores, o Palácio do Planalto monitora com atenção os desdobramentos, principalmente pela pressão que esse tipo de discurso pode exercer sobre o agronegócio brasileiro — tradicionalmente alinhado a pautas econômicas liberais e com forte interesse no mercado norte-americano.
Além disso, o episódio tem repercussão política doméstica, já que o ex-presidente Jair Bolsonaro mantém proximidade com Donald Trump e chegou a elogiar o retorno dele à Casa Branca. O novo embate comercial pode colocar bolsonaristas em situação desconfortável, especialmente após a revelação de que Eduardo Bolsonaro teria atuado nos bastidores para facilitar o diálogo com a equipe de Trump, mesmo com o prejuízo direto ao Brasil.
Brasil, alvo ou parceiro?
Historicamente, o Brasil tem buscado manter uma relação pragmática com os EUA, equilibrando interesses comerciais com autonomia diplomática. O discurso de Lutnick, no entanto, parece reforçar a linha mais unilateral do novo governo Trump, que cobra subordinação econômica como forma de cooperação.
A crise atual representa mais do que uma disputa tarifária: é um teste para os rumos da política externa brasileira e da sua capacidade de reagir a pressões externas sem ceder soberania comercial.