Em discurso na ONU, Lula cita condenação de Jair Bolsonaro; Leia a íntegra do discurso

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) abriu, nesta terça-feira (23), a 80ª Assembleia Geral das Nações Unidas com um discurso contundente em defesa do multilateralismo, da soberania dos países em desenvolvimento e da democracia. Em uma fala com críticas indiretas aos Estados Unidos e à extrema direita internacional, Lula também abordou os conflitos globais, a crise climática e a importância da cooperação internacional.

Por tradição desde 1955, o Brasil é o primeiro país a discursar na abertura do evento anual da ONU, seguido pelos Estados Unidos.

Lula estava acompanhado por uma comitiva de ministros, incluindo Mauro Vieira (Relações Exteriores), Marina Silva (Meio Ambiente), Ricardo Lewandowski (Justiça), Sônia Guajajara (Povos Indígenas), Márcia Lopes (Mulheres) e Jader Barbalho Filho (Cidades).

Críticas veladas ao governo Trump e defesa do Judiciário

Sem mencionar diretamente o presidente norte-americano Donald Trump, Lula fez duras críticas a ações internacionais que classificou como “medidas unilaterais e arbitrárias contra nossas instituições e nossa economia”. A fala acontece em meio à crise diplomática entre os dois países, agravada após o governo Trump cancelar os vistos de sete autoridades brasileiras, incluindo assessores e auxiliares próximos do ministro Alexandre de Moraes.

“A agressão contra a independência do Poder Judiciário é inaceitável. Essa ingerência em assuntos internos conta com o auxílio de uma extrema direita subserviente e saudosa de antigas hegemonias”, afirmou o presidente brasileiro.

Lula destacou que o Brasil resistiu a ataques autoritários e que sua democracia foi reafirmada com a condenação de um ex-presidente — numa referência direta à sentença contra Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado.

“Não há pacificação com impunidade. O Brasil deu um recado a todos os candidatos a autocratas: nossa democracia e nossa soberania são inegociáveis.”

Multilateralismo, clima e desigualdade

Lula chamou atenção para a crise do multilateralismo e a perda de credibilidade de instituições como a própria ONU, afirmando que “a autoridade desta Organização está em xeque” e que o mundo vive um momento de “desordem internacional”.

Ele criticou o uso excessivo de sanções e intervenções unilaterais e defendeu reformas profundas no sistema internacional, incluindo a ampliação do Conselho de Segurança da ONU e a refundação da Organização Mundial do Comércio (OMC).

Na pauta ambiental, o presidente reforçou que o Brasil reduziu pela metade o desmatamento na Amazônia nos últimos dois anos e anunciou a criação do Fundo Florestas Tropicais para Sempre, voltado ao financiamento de países que preservam suas florestas.

“A COP30, em Belém, será a COP da verdade”, afirmou Lula, cobrando compromisso efetivo dos países ricos com o combate à crise climática.

Conflitos globais: Gaza, Ucrânia, Venezuela

O petista também condenou o que chamou de “uso desproporcional da força” em Gaza, após os ataques do Hamas a Israel. Ele reconheceu os atos terroristas, mas afirmou que “nada, absolutamente nada, justifica o genocídio em curso em Gaza”, numa crítica dura ao governo israelense e aos países que apoiam a ofensiva militar.

“O povo palestino corre o risco de desaparecer. Só sobreviverá com um Estado independente.”

Sobre a guerra na Ucrânia, Lula reforçou que não existe solução militar e defendeu o papel da diplomacia, mencionando iniciativas da China, da União Africana e do Grupo de Amigos da Paz — liderado por Brasil e China — como alternativas reais para a mediação do conflito.

Direitos digitais e combate ao extremismo

Em outro trecho marcante, Lula tratou da regulação das plataformas digitais. Disse que a internet não pode ser “terra sem lei” e que proteger os mais vulneráveis — especialmente crianças e adolescentes — é dever do Estado. Destacou ainda a promulgação recente de uma das leis mais avançadas do mundo para proteção digital da infância.

“Regular não é restringir liberdade de expressão. É garantir que o que já é ilegal no mundo real também o seja no virtual.”

O presidente acusou “milícias digitais” de espalharem ódio, intolerância e desinformação, e defendeu responsabilização de agentes que atentam contra a democracia, inclusive no ambiente virtual.

Mensagem final: multipolaridade e esperança

Lula concluiu seu discurso com um apelo por uma ordem internacional mais justa, baseada na igualdade entre as nações. Ele destacou a importância do Sul Global e defendeu que a ONU volte a ser promotora da paz, do desenvolvimento e dos direitos humanos.

“A confrontação não é inevitável. O século 21 será cada vez mais multipolar. Para se manter pacífico, não pode deixar de ser multilateral.”

“Que o amanhã é feito de escolhas diárias, e é preciso coragem de agir para transformá-lo.”

📌 Resumo dos principais pontos do discurso de Lula na ONU 2025:

  • Críticas à ingerência externa e defesa do Judiciário brasileiro

  • Condenação ao genocídio em Gaza e apoio ao Estado palestino

  • Rejeição à solução militar na Ucrânia; defesa do diálogo diplomático

  • Anúncio de redução do desmatamento na Amazônia e nova agenda verde

  • Defesa da regulação das redes sociais e proteção digital da infância

  • Propostas de reforma da ONU, OMC e sistema tributário global

  • Enaltecimento do papel do Sul Global e da multipolaridade

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Bruno Rigacci

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