Declaração de Dino sobre Charlie Kirk chega a Trump e gera grande irritação no Governo dos EUA

Um comentário feito pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Flávio Dino, durante o julgamento do plano de golpe de Estado atribuído ao ex-presidente Jair Bolsonaro e outros réus, provocou forte reação negativa entre autoridades dos Estados Unidos. A informação foi revelada pela jornalista Débora Bergamasco, da CNN, durante o programa CNN Arena.

Na sessão realizada na última quinta-feira (11), Dino abordou o assassinato do influenciador conservador Charlie Kirk, morto a tiros em um campus universitário em Utah. O ministro utilizou o episódio para ilustrar sua reflexão sobre justiça, perdão e pacificação:

“Ontem, infelizmente, houve um grave crime político: um jovem, que ocupa uma posição política aparentemente ao lado do atual presidente dos EUA, mas isso pouco importa, levou um tiro. É curioso notar porque há uma ideia segundo a qual anistia e perdão seriam iguais à paz. Foi feito perdão nos Estados Unidos, mas não há paz. Na verdade, o que define a paz que devemos buscar não é a existência do esquecimento. Às vezes, a paz se obtém pelo funcionamento adequado das instâncias repressivas do Estado.”

A fala, que fez alusão ao perdão concedido a cerca de 1.500 pessoas envolvidas na invasão ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021, foi traduzida e encaminhada a membros do Departamento de Estado norte-americano. Segundo apuração da CNN, um dos diplomatas reagiu com a frase: “He’s crazy” (“ele é louco”).

Charlie Kirk e o cenário político americano

Charlie Kirk era uma figura central do movimento MAGA (Make America Great Again) e aliado próximo do ex-presidente e atual mandatário dos EUA, Donald Trump. Sua atuação foi fundamental na mobilização do eleitorado jovem conservador nos últimos anos, além de manter forte presença na mídia e nas redes sociais.

A sensibilidade em torno de sua morte — considerada um crime político — torna qualquer menção pública ainda mais delicada, especialmente por autoridades estrangeiras. A fala de Dino foi vista por parte do governo americano como inapropriada e politizada, alimentando um mal-estar diplomático entre Brasília e Washington.

Sanções à vista?

A repercussão do comentário acirra especulações sobre possíveis sanções específicas contra o ministro Flávio Dino, a serem anunciadas junto com um pacote mais amplo de medidas dos EUA contra o Brasil, previsto para a próxima semana. Fontes diplomáticas não descartam restrições de visto e medidas financeiras direcionadas, semelhantes às aplicadas a outros agentes políticos envolvidos em controvérsias internacionais.

A fala de Dino ocorre em um contexto já tenso, em meio à possível reação do governo norte-americano à condenação de Jair Bolsonaro e às investigações sobre o 8 de janeiro no Brasil — episódios que têm mobilizado atenção internacional.

Contexto crescente de tensão

O Brasil já vinha enfrentando críticas veladas por parte de setores do governo americano quanto ao tratamento dado a adversários políticos do Judiciário brasileiro. A declaração do ministro pode reforçar percepções negativas sobre a condução da Justiça no país.

Nos bastidores, diplomatas brasileiros tentam minimizar o impacto da fala e evitar que ela agrave ainda mais a relação entre os dois países, em especial diante da importância estratégica dos EUA como parceiro comercial e político.

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Bruno Rigacci

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