The Guardian faz perfil de Moraes
Em meio ao julgamento da suposta tentativa de golpe de Estado envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o jornal britânico The Guardian publicou um extenso perfil do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Na reportagem, o magistrado é descrito como uma figura que “inspira amor e ódio” e uma das “maiores e mais controversas celebridades” brasileiras da atualidade.
O texto descreve Moraes como “belicoso” e “musculoso”, além de destacar sua postura combativa desde a eleição de Bolsonaro em 2018, o que o teria transformado em um “herói para os progressistas” e, ao mesmo tempo, em “figura odiada pelos devotos de Bolsonaro”.
Figura central no xadrez político brasileiro
O Guardian ressalta que Moraes se tornou o principal rosto da resistência institucional contra atos antidemocráticos, conduzindo investigações que atingem diretamente Bolsonaro, seus aliados e influenciadores de extrema-direita. Entre as ações, estão o bloqueio de perfis nas redes sociais, a abertura do inquérito das fake news e a responsabilização de envolvidos nos ataques de 8 de janeiro de 2023.
A matéria observa, no entanto, que mesmo entre simpatizantes da esquerda há inquietações quanto ao alcance das decisões do ministro. “Até alguns progressistas se preocupam que Moraes pode ter ido além de sua autoridade constitucional em sua cruzada para defender a democracia”, pontua o jornal. A publicação também questiona a longevidade do inquérito das fake news, aberto há seis anos e ainda sem conclusão clara.
Trajetória e transformação ideológica
O jornal britânico traça ainda a carreira de Moraes: ex-professor de Direito Constitucional, ex-secretário de segurança pública e ex-ministro da Justiça do governo Michel Temer. O texto o descreve como alguém com “currículo invejável” e “perfil workaholic”, lembrando que seu livro sobre direito constitucional vendeu centenas de milhares de exemplares e se tornou referência em concursos públicos e faculdades.
Curiosamente, o Guardian destaca uma entrevista ao Le Monde, em que um amigo pessoal, Floriano de Azevedo Marques Neto, afirma que Moraes era “um homem de direita” na juventude, dizendo que “a última coisa que ele teria no quarto seria um pôster do Che Guevara”.
Ícone da polarização
Para ilustrar o grau de idolatria (e rejeição) que o ministro desperta, a matéria cita o bilionário Elon Musk, que já o chamou de “ditador malvado fazendo cosplay de juiz”, e também conta o caso do açougueiro Adauto Gomes Nascimento, de Belém (PA), que tatuou o rosto de Moraes na perna.
“Se tatuar o rosto de um juiz da Suprema Corte na perna parece uma decisão peculiar, o cenário político excepcional do Brasil ajuda a explicar a escolha”, ironiza o texto.
Repercussão internacional crescente
A reportagem do Guardian chega em um momento de forte tensão institucional no Brasil, com críticas públicas ao STF vindas de figuras como o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, e com a comunidade internacional atenta aos desdobramentos do julgamento de Bolsonaro. Nos EUA, aliados do ex-presidente Donald Trump também têm se posicionado, prometendo “ações contra Moraes” e classificando o cenário político brasileiro como “preocupante”.