Revelado o “infiltrado” em grupo de WhatsApp que provocou a perseguição de Moraes a Luciano Hang

Um novo capítulo foi adicionado à crescente controvérsia envolvendo investigações conduzidas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) às vésperas das eleições de 2022. O jornalista Lucas Mesquita, atualmente assessor no Ministério do Empreendedorismo do governo Lula, foi acusado de ter se infiltrado em grupos de WhatsApp ligados à direita política e repassado ilegalmente conversas privadas que serviram de base para operações autorizadas pelo ministro Alexandre de Moraes.

A revelação foi feita pelo perito Eduardo Tagliaferro, ex-assessor de Moraes no STF, durante audiência na Comissão de Segurança Pública do Senado Federal na última terça-feira (2). Segundo Tagliaferro, Mesquita acessou e vazou mensagens do grupo “Empresários & Política”, que incluía nomes como Luciano Hang e Meyer Nigri. As mensagens, posteriormente publicadas na imprensa, teriam motivado buscas e apreensões determinadas por Moraes poucos dias depois.

De acordo com o perito, os documentos que justificaram a ação da Polícia Federal foram produzidos com datas retroativas, uma prática que ele classificou como “fraude documental”. “Assinei como se fosse um relatório do Supremo Tribunal Federal. Mas eu não era servidor nomeado. Fiz porque fui instruído. Está tudo documentado: os arquivos, as datas de criação, os metadados, os hashes”, afirmou Tagliaferro, que também apresentou capturas de tela e um mapa mental supostamente usado por Moraes para estruturar as investigações.

Infiltração e manipulação

Lucas Mesquita, de 35 anos, tem trajetória ligada à comunicação política desde 2010, quando atuou como assessor da chapa Dilma-Temer. Mais tarde, fundou uma empresa de produção audiovisual em Brasília. Segundo os documentos apresentados, Mesquita permaneceu por anos como membro silencioso de dois grupos de WhatsApp ligados à direita: o “Parlatório” e o “Empresários & Política”, interagindo pontualmente para não levantar suspeitas.

Em abril de 2022, ele publicou uma mensagem demonstrando aparente neutralidade política: “Infelizmente vai ser segundo turno entre Lula e Bolsonaro. Mas ainda tenho esperança de alguém conseguir aglutinar as forças de centro e ir pro segundo turno.” Poucos meses depois, o conteúdo do grupo foi parar em reportagens dos jornalistas Guilherme Amado e da equipe do Metrópoles, com destaque para críticas de Hang ao padre Julio Lancellotti — o que resultou em condenação do empresário por danos morais.

Operação e irregularidades

O vazamento foi seguido por uma operação de busca e apreensão autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes em 23 de agosto de 2022, menos de uma semana após a publicação das conversas. A ação atingiu empresários e teve como justificativa supostas intenções golpistas expressas nas mensagens — como a frase “Prefiro golpe do que a volta do PT. Um milhão de vezes”.

No entanto, segundo Tagliaferro, os documentos utilizados para embasar a operação foram produzidos de forma irregular e apressada, a pedido de Airton Vieira, assessor direto de Moraes. O perito afirmou ainda que foi procurado após a operação para “ajudar a construir uma história” que justificasse a existência de uma investigação prévia.

A operação foi realizada em cinco estados, com bloqueio das redes sociais de Luciano Hang por mais de dois anos. Em setembro de 2024, seus perfis foram reativados. Em agosto de 2023, o STF arquivou os inquéritos de seis dos oito empresários por “ausência de justa causa”, mantendo temporariamente apenas os casos de Hang e Nigri.

Relações com o governo e questionamentos

Lucas Mesquita foi nomeado assessor no Ministério do Empreendedorismo, chefiado por Márcio França, em janeiro de 2024. Em redes sociais, mantém perfil discreto, mas registra encontros com figuras de destaque como o presidente Lula, o ministro do STF Alexandre de Moraes e o então ministro da Justiça Flávio Dino.

O caso agora se conecta ao chamado “Vaza Toga 2”, investigação não oficial que denuncia o uso de “parceiros externos” para realizar coletas de dados e investigações paralelas ao Judiciário. Mesquita teria recebido as mensagens de uma pessoa identificada como “Bruxa”, já conhecida do caso original da Vaza Toga.

Durante a audiência no Senado, Tagliaferro foi categórico:

“Essa fraude é gravíssima. Se isso foi feito nesse processo, o que não pode ter sido feito em outros, todos físicos, todos guardados a sete chaves no gabinete do ministro?”

Até o momento, nem o STF nem o Ministério do Empreendedorismo comentaram oficialmente as acusações. O caso deve ser discutido em novas sessões da Comissão de Segurança Pública e pode gerar desdobramentos legais e institucionais nas próximas semanas.

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Bruno Rigacci

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