Moraes manda “recado” para Donald Trump
Durante seu mandato, o ex-presidente Jair Bolsonaro indicou dois ministros ao Supremo Tribunal Federal (STF): Kassio Nunes Marques e André Mendonça. Ambos acompanham com atenção o julgamento que envolve Bolsonaro na acusação de suposta participação em uma tentativa de golpe de Estado.
Segundo o jornalista Igor Gadelha, os dois ministros teriam feito previsões reservadas sobre o rumo do julgamento. Eles acreditam que o ministro Luiz Fux poderá divergir pontualmente do voto do relator, Alexandre de Moraes, mas não deverá pedir vista do processo — ou seja, não deverá adiar a decisão. Para os ministros indicados por Bolsonaro, o desfecho já está traçado: a condenação do ex-presidente seria inevitável. Nos bastidores, o entendimento é que o julgamento já estaria decidido antes mesmo da conclusão da análise técnica.
Nesse contexto, uma fala do ministro Alexandre de Moraes, feita logo no início da sessão, chamou atenção. Antes de iniciar a leitura do relatório da ação penal, Moraes afirmou:
“A soberania nacional é um dos fundamentos da República Federativa do Brasil, expressamente previsto no inciso primeiro do artigo primeiro da Constituição Federal. Não pode, não deve e jamais será vilipendiada, negociada ou extorquida.”
Para alguns presentes, o comentário soou como um claro “recado” — e o destinatário seria o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que tem sido citado por aliados de Bolsonaro como uma figura de apoio em meio ao cerco judicial.
Curiosamente, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, usou termos semelhantes recentemente ao comentar possíveis interferências norte-americanas em assuntos internos do país. Embora o tom dos discursos seja parecido, certamente trata-se de mera coincidência.
A semelhança, no entanto, alimenta especulações e ironias nos meios políticos: de um lado, ministros do STF buscando reafirmar a soberania brasileira diante de pressões externas; de outro, adversários de Moraes destacando o paralelo retórico com regimes que frequentemente enfrentam críticas quanto à democracia e ao Estado de Direito.
Para aliados de Bolsonaro, a sequência dos fatos reforça a percepção de que o ex-presidente está sendo julgado em um ambiente já hostil — e condenado, politicamente, antes mesmo do veredicto jurídico.
O julgamento em andamento deve ter implicações profundas não apenas para o futuro de Bolsonaro, mas também para a relação entre os Poderes e os limites da atuação política dentro e fora do país.