A expulsão do embaixador iraniano
O governo da Austrália tomou uma medida sem precedentes em mais de 80 anos: expulsou o embaixador do Irã, Ahmad Sadeghi, junto a outros três diplomatas iranianos. A decisão foi anunciada nesta terça-feira (26) pelo primeiro-ministro Anthony Albanese, após a Organização de Inteligência de Segurança da Austrália (ASIO) confirmar o envolvimento direto do regime iraniano em ataques antissemitas ocorridos em território australiano.
Segundo a ASIO, os ataques foram articulados por meio da Guarda Revolucionária Iraniana, braço militar de elite do regime teocrático de Teerã, agora oficialmente classificada pelo governo australiano como organização terrorista — um passo semelhante ao dado pelos Estados Unidos em 2019.
Essa é a primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial (1939–1945) que a Austrália expulsa um embaixador estrangeiro, marcando uma escalada drástica na deterioração das relações diplomáticas entre os dois países.
Conexões com ataques em 2024
A decisão australiana veio após a confirmação da participação da Guarda Revolucionária em dois ataques antissemitas registrados no segundo semestre de 2024:
Outubro de 2024: o restaurante Lewis’ Continental Kitchen, um dos mais antigos estabelecimentos kosher de Sydney, próximo à famosa Bondi Beach, foi incendiado durante a madrugada. O local era referência da comunidade judaica na região há mais de 50 anos.
Dezembro de 2024: agressores mascarados invadiram e incendiaram a Sinagoga Adass Israel, em Melbourne. O ataque aconteceu horas antes de uma cerimônia religiosa que reuniria dezenas de fiéis.
Ambos os crimes foram inicialmente tratados como atos isolados de intolerância, mas as investigações da ASIO revelaram posteriormente coordenação e financiamento internacionais, com vínculos diretos à Guarda Revolucionária Iraniana.
Medidas adicionais: embaixada suspensa e alerta para cidadãos
Além das expulsões, o governo australiano anunciou a suspensão das atividades de sua embaixada em Teerã, medida que indica o congelamento das relações diplomáticas com o regime iraniano.
O Ministério das Relações Exteriores também emitiu um alerta aos cidadãos australianos que estejam atualmente no Irã, recomendando que deixem o país imediatamente devido ao risco elevado de retaliações ou detenções arbitrárias.
Reações e implicações
A comunidade judaica australiana reagiu com alívio à ação do governo, cobrando há meses uma resposta mais firme às ameaças crescentes. Organizações judaicas do país elogiaram a decisão e pediram reforço à segurança de templos, escolas e centros comunitários.
No plano internacional, a medida australiana pode abrir caminho para que outros países aliados adotem posturas semelhantes diante da crescente influência da Guarda Revolucionária em ações extraterritoriais.
Ainda não houve resposta oficial do governo do Irã até o momento.