“Moraes não reage bem à pressão”
A crise institucional no Brasil ganhou novos contornos após a decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), de colocar o ex-presidente Jair Bolsonaro em prisão domiciliar, no âmbito das investigações sobre uma suposta tentativa de golpe de Estado. Segundo a colunista Malu Gaspar, do jornal O Globo, a medida provocou reação interna na Corte, com pelo menos dois ministros pedindo maior cautela ao colega.
De acordo com relatos ouvidos por Malu Gaspar, os ministros Gilmar Mendes e Luís Roberto Barroso teriam procurado Moraes na última semana para conversas reservadas, manifestando incômodo com a condução do processo — sobretudo pelo fato de a decisão ter sido tomada de ofício, sem ouvir previamente a Procuradoria-Geral da República (PGR) ou consultar os demais integrantes do STF.
Apesar da delicadeza do momento, os interlocutores relataram que não houve discussão acalorada ou enfrentamento direto. “Moraes não reage bem à pressão”, teria sido o tom da conversa. Oficialmente, Barroso afirmou apenas que mantém “conversas amistosas com os colegas”, enquanto Gilmar negou ter tratado do assunto com Moraes, dizendo que “jamais” discutiu a prisão domiciliar de Bolsonaro com ele.
A movimentação nos bastidores indica uma preocupação crescente dentro do próprio Supremo com os efeitos políticos e diplomáticos das decisões envolvendo Bolsonaro — especialmente em um momento de tensão com os Estados Unidos.
Eduardo Bolsonaro: “Trump nem começou a usar todas as armas”
O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente, reagiu publicamente à decisão de Moraes e mandou um recado ao STF e ao governo norte-americano. Em declaração feita nesta sexta-feira (16), Eduardo afirmou que é preciso “dar uma primeira sinalização aos Estados Unidos de que estamos resolvendo essa crise institucional”, mas advertiu que “eles perderam poder” e terão que compreender que o cenário geopolítico mudou.
“A última coisa que ele [Moraes] fez foi colocar Jair Bolsonaro em prisão domiciliar. E o presidente Trump está dizendo que isso é muito ruim, muito feio, toda a perseguição judicial que Jair Bolsonaro, sua família e seus apoiadores estão sofrendo no Brasil”, declarou.
Eduardo também se referiu às medidas adotadas por Washington — como a suspensão de vistos de autoridades brasileiras — como “remédios diplomáticos”, e não descartou que novas sanções estejam a caminho. “Se eu acredito que mais sanções estão por vir contra autoridades brasileiras? Sim, eu acredito, porque Alexandre de Moraes continua insistindo, dobrando a aposta.”
A fala sugere que o entorno de Bolsonaro aposta na escalada de pressão internacional liderada por Donald Trump, especialmente após a possível reeleição do republicano à presidência dos EUA, marcada por um discurso crítico ao atual governo brasileiro e a decisões do Judiciário que envolvam aliados da direita.
Um STF Dividido em Meio a Pressões Externas e Internas
O episódio da prisão domiciliar de Bolsonaro e sua repercussão nos bastidores do Supremo revelam um momento de tensão institucional dentro da Corte. A crítica velada de Gilmar e Barroso aponta para um desconforto crescente com o estilo decisório de Moraes, que tem atuado com firmeza e independência no enfrentamento de casos relacionados ao bolsonarismo, mas que agora parece isolar-se até entre seus pares.
A crise também coincide com o anúncio de que os Estados Unidos avaliam restituir o visto do ministro Edson Fachin, escolhido para presidir o STF a partir de setembro, em um gesto interpretado por analistas como um reposicionamento diplomático de Washington, que pode buscar novos interlocutores no Judiciário brasileiro.
O Que Vem a Seguir?
Com um cenário cada vez mais polarizado, o Brasil assiste a um conflito de narrativas envolvendo Judiciário, Legislativo e pressões internacionais. A eventual reação do STF à crítica interna, a postura da Procuradoria-Geral da República e a resposta dos Estados Unidos nos próximos dias poderão definir os rumos da crise — e revelar se haverá trégua, ou nova escalada.