Gilmar faz campanha por novo ministro no STF na vaga de Barroso
O ministro Gilmar Mendes, um dos decanos do Supremo Tribunal Federal (STF), rompeu o silêncio institucional e declarou publicamente seu apoio à indicação do senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) para uma vaga na Corte. A fala veio em entrevista à Folha de S.Paulo, em meio às especulações sobre a possível aposentadoria antecipada do atual presidente do STF, Luís Roberto Barroso, que estaria cogitando deixar o tribunal antes do fim de seu mandato constitucional.
“A Corte precisa de pessoas corajosas e preparadas juridicamente“, afirmou Gilmar, acrescentando que “o STF é jogo para adultos“, num tom que muitos interpretaram como um recado direto diante das pressões crescentes sobre a atuação da Corte — tanto internas quanto internacionais.
Com frase clara e direta, o ministro cravou:
“O senador Pacheco é o nosso candidato.“
A declaração escancarou o movimento de bastidores em torno da próxima vaga no Supremo, uma disputa que ganha corpo em meio ao aumento das tensões políticas envolvendo o Judiciário, especialmente após decisões recentes de Alexandre de Moraes e os atritos com setores ligados à direita nacional e internacional.
Barroso Sob Pressão
O pano de fundo da articulação é o suposto plano de Barroso antecipar sua aposentadoria, informação que circula entre ministros e assessores do tribunal. Aos 67 anos, Barroso teria confidenciado a interlocutores próximos sua disposição de sair antes de completar os 75 anos — idade-limite prevista pela Constituição.
Embora o movimento possa ser interpretado como natural dentro do ritmo institucional da Corte, opositores acusam Barroso de tentar “abandonar o barco antes do naufrágio”, em meio às pressões diplomáticas, críticas internas à condução de decisões monocráticas e ao crescente isolamento do STF em parte da opinião pública.
Pacheco no Radar de Lula
A possível indicação de Rodrigo Pacheco para o STF vem sendo ventilada há meses. Próximo ao presidente Lula (PT) e tido como um nome de confiança no Senado, Pacheco carrega o perfil político-jurídico que agrada tanto ao núcleo governista quanto a ministros como Gilmar Mendes, que busca preservar o equilíbrio institucional da Corte num momento em que sua legitimidade vem sendo testada.
Ao ser questionado sobre a possibilidade de assumir uma cadeira no STF, Pacheco desconversou, afirmando apenas:
“Sou tímido.”
Apesar da resposta evasiva, o nome do senador é visto como estratégico por analistas. Ele tem trânsito no Congresso, mantém bom diálogo com o Planalto e é considerado capaz de fortalecer a ala moderada da Corte, num eventual realinhamento interno entre os ministros.
O Que Está em Jogo?
A fala de Gilmar Mendes abre uma nova frente de disputa dentro do Supremo. A sucessão de Barroso — caso confirmada — permitirá a Lula fazer mais uma indicação à Corte, o que já acontece em um cenário altamente sensível: com a credibilidade do STF sendo alvo de questionamentos, o avanço de investigações delicadas, e o endurecimento da retórica bolsonarista no país e no exterior.
Além disso, a possível chegada de Pacheco ao tribunal pode representar:
A politização (ou repolitização) da Corte, com a entrada de um ex-parlamentar;
A busca por estabilidade institucional, com uma figura de diálogo entre os Poderes;
A consolidação de uma nova maioria moderada, caso Pacheco se alie a nomes como Gilmar e André Mendonça;
E, no plano simbólico, um gesto de Lula rumo ao centro político, mirando 2026.
STF em Ebulição
A movimentação de Gilmar Mendes deve repercutir fortemente no ambiente interno da Corte. Em um STF já marcado por dissensos velados e tensões sobre protagonismo individual, a sinalização explícita de um nome externo, com apoio político, pode gerar resistências entre os ministros mais técnicos ou independentes.
Para analistas ouvidos sob reserva, a disputa por influência na sucessão já começou, e o que está em jogo não é apenas uma cadeira no Supremo, mas a direção que o Judiciário tomará nos próximos anos em meio a uma tempestade institucional sem precedentes.