Após 140 anos de atividade, empresa admite risco de fechar as portas

A tradicional fabricante norte-americana Kodak, ícone global da fotografia e símbolo de inovação no século XX, enfrenta um dos momentos mais delicados de sua longa trajetória. A companhia, fundada em 1888 em Rochester, Nova York, reconheceu pela primeira vez a possibilidade real de encerrar suas operações, após divulgar um balanço financeiro alarmante que evidencia dificuldades para quitar dívidas com vencimento nos próximos 12 meses.

Em comunicado oficial divulgado na segunda-feira (11), a Kodak revelou que não possui linhas de crédito garantidas nem liquidez suficiente para cumprir suas obrigações financeiras no prazo. “A Kodak tem dívidas que vencem em 12 meses e não tem financiamento comprometido nem liquidez disponível para cumprir tais obrigações, caso venham nos termos atuais”, declarou a empresa.

A situação foi classificada pela própria direção como crítica, com o diretor financeiro David Bullwinkle admitindo “dúvidas substanciais” quanto à capacidade de continuidade operacional da empresa. O alerta foi reforçado após a divulgação de um prejuízo de US$ 26 milhões no segundo trimestre de 2025, um desempenho apenas 1% melhor que o registrado no mesmo período do ano anterior e abaixo das expectativas do mercado.

Atualmente, o endividamento da Kodak está em cerca de US$ 155 milhões. A companhia afirma que busca “alternativas estratégicas” para lidar com o déficit de curto prazo, incluindo a possibilidade de renegociar, prorrogar ou refinanciar a dívida existente, além de tentar liquidar parte expressiva do empréstimo antes do vencimento.

Uma História de Invenção, Oportunidades Perdidas e Reinvenções

A Kodak foi uma das maiores responsáveis por popularizar a fotografia no mundo. Criada por George Eastman e Henry A. Strong, a empresa transformou o mercado com a introdução de câmeras acessíveis e o slogan inesquecível: “Você aperta o botão, e nós fazemos o resto.”

Apesar de ter sido pioneira no desenvolvimento da tecnologia de fotografia digital, a empresa optou por não priorizar esse segmento nos anos 1990, temendo canibalizar seu lucrativo negócio de filmes fotográficos. A decisão estratégica, agora amplamente criticada, acabou sendo um dos principais fatores que contribuíram para sua decadência. À medida que a fotografia digital se consolidava, as receitas da Kodak despencavam e o endividamento aumentava.

Em 2012, a Kodak entrou com pedido de recuperação judicial (Chapter 11), acumulando um passivo de US$ 6,65 bilhões. Após anos de reestruturação, a empresa tentou se reinventar, migrando para setores como impressão industrial, embalagens, microimpressão 3D e até produtos farmacêuticos, numa controversa tentativa de diversificação em 2020, durante a pandemia da Covid-19.

Hoje, além das operações industriais, a Kodak sobrevive também por meio do licenciamento de sua marca para produtos de consumo, como câmeras digitais e acessórios vendidos por terceiros.

O Fim de Uma Era?

Com dificuldades crescentes, endividamento elevado e uma base operacional reduzida, a Kodak luta para não encerrar definitivamente sua história de 137 anos. Embora ainda haja alternativas em negociação, especialistas apontam que a empresa depende de uma recuperação financeira rápida e de parcerias estratégicas para evitar um segundo colapso.

O eventual fechamento da Kodak não representaria apenas o fim de uma companhia centenária, mas também o encerramento simbólico de uma era da fotografia — uma era em que a empresa foi protagonista, moldando a forma como o mundo registrava suas memórias.

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Bruno Rigacci

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