A inusitada explosão em desabafo do juiz que foi o principal auxiliar de Moraes

Um áudio do juiz Airton Vieira, que atuou até março deste ano como auxiliar do ministro Alexandre de Moraes no Supremo Tribunal Federal (STF), passou a circular nas redes sociais e provocou forte repercussão nos meios jurídico e político. Na gravação, enviada em 14 de janeiro de 2023 ao então chefe da Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Eduardo Tagliaferro, o juiz descreve um cenário de exaustão física e emocional, atribuindo a sua condição ao ambiente de trabalho no gabinete de Moraes.

Eu não estou aguentando mais em termos físicos, psicológicos, emocionais. Eu não consigo dormir sossegado, eu não tenho tranquilidade, eu estou perdendo completamente a higidez mental, o pouco que eu ainda tinha, viu? Realmente a coisa está feia”, afirma Vieira, em tom visivelmente abalado.

Segundo relatos, Airton Vieira — juiz de carreira do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás — teria sido escalado para colaborar com Moraes em processos de alta sensibilidade política, entre eles as investigações sobre atos antidemocráticos, fake news, milícias digitais e supostas tramas golpistas envolvendo o entorno do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Clima de Pressão no STF

A revelação do áudio, ainda sem manifestação oficial do STF até o momento, adiciona novos elementos ao debate sobre o clima interno na Corte, especialmente em torno do gabinete de Moraes, cuja atuação tem sido marcada por decisões firmes — e, por vezes, controversas — em defesa da democracia e do Estado de Direito.

A fala de Vieira evidencia não apenas o peso institucional e político que recai sobre os que lidam diretamente com esses processos, mas também um custo pessoal elevado, algo que raramente vem a público. Em seu desabafo, o juiz também menciona que sua família foi “extremamente prejudicada”, sem entrar em detalhes.

Contexto: Crises, Conflitos e Tensões Internas

A divulgação do áudio ocorre em meio a fortes tensões entre ministros do STF — como revelado em matéria recente da colunista Malu Gaspar, de O Globo, que apontou críticas reservadas de Gilmar Mendes e Luís Roberto Barroso à decisão unilateral de Moraes de colocar Jair Bolsonaro em prisão domiciliar, sem consulta à PGR ou aos colegas da Corte.

O episódio também coincide com críticas externas vindas de setores bolsonaristas, especialmente do deputado Eduardo Bolsonaro, que classificou as decisões judiciais contra seu pai como “perseguição” e sugeriu retaliações diplomáticas por parte do governo Donald Trump.

O Que Dizem Especialistas

Juristas e analistas dividem opiniões. Para alguns, o áudio reforça a narrativa de que há um ambiente de judicialização excessiva e politização das decisões judiciais, com consequências pessoais para os envolvidos. Para outros, é mais um indicativo do peso histórico e institucional que recai sobre quem ocupa posições estratégicas em momentos de crise democrática.

“Não é surpreendente que pessoas envolvidas em casos dessa magnitude sofram pressões psicológicas. Mas é preocupante quando isso leva à ruptura do bem-estar mental de um magistrado”, avalia um professor de direito constitucional que preferiu não se identificar.

STF Ainda Não Se Manifestou

Até o fechamento desta matéria, o Supremo Tribunal Federal não havia se pronunciado oficialmente sobre o conteúdo ou a autenticidade do áudio. O ministro Alexandre de Moraes também não comentou o episódio.

O juiz Airton Vieira, hoje de volta às atividades no Tribunal de Justiça de Goiás, tampouco emitiu declaração pública. Nos bastidores, pessoas próximas a ele descrevem sua saída do STF como um “afastamento necessário” para preservar sua saúde.

Uma Crise Que Não Dá Trégua

O episódio aprofunda um cenário de crise institucional crescente, em que os limites entre o jurídico, o político e o pessoal se tornam cada vez mais difíceis de delimitar. O desabafo de Vieira — humano, angustiado e revelador — escancara não apenas as pressões que se abatem sobre os operadores do direito, mas também o custo invisível da guerra institucional que se desenrola nos bastidores da República.

Compartilhe nas redes sociais

Bruno Rigacci

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Este site usa cookies para garantir que você tenha a melhor experiência em nosso site! ACEPTAR
Aviso de cookies