Moraes surge abatido e pela primeira vez admite “erros”

Em meio a um cenário de forte pressão política, jurídica e internacional, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), tem adotado um discurso mais ameno e conciliador. Recentemente, ele passou a reconhecer que “houve acertos e erros” por parte da Corte no enfrentamento dos episódios mais delicados dos últimos anos, como os atos de 8 de janeiro de 2023, a repressão a manifestações políticas e a suspensão de perfis em redes sociais.

A mudança no tom ocorre no momento em que o ministro enfrenta críticas crescentes no Brasil e no exterior, incluindo uma sanção formal imposta pelos Estados Unidos, no âmbito da Lei Global Magnitsky, que acusa Moraes de envolvimento em supostas violações de direitos humanos e restrições à liberdade de expressão.

Embora o ministro não tenha se manifestado diretamente sobre as sanções americanas, fontes próximas ao Supremo indicam que Moraes estaria preocupado com os desdobramentos internacionais, e também com a possibilidade de ações judiciais no exterior ganharem tração, como a que atualmente tramita na Justiça Federal da Flórida, movida por empresas ligadas ao presidente Donald Trump.

Tentativa de diluir responsabilidades

Em seu novo posicionamento público, Moraes tem sinalizado que as decisões polêmicas tomadas nos últimos anos não foram exclusivamente suas, e sim colegiadas, ou seja, compartilhadas com os demais ministros do STF. O movimento é interpretado por observadores como uma tentativa de dividir a responsabilidade institucional e conter o desgaste concentrado em sua figura.

No entanto, especialistas apontam que boa parte das medidas mais controversas — como prisões preventivas sem prazo definido, censura de canais de comunicação e bloqueios extrajudiciais em redes sociais — foram tomadas monocraticamente por Moraes, antes de passarem pela chancela do plenário.

Caso Clezão e acusações de abusos

Um dos exemplos citados por críticos é o caso de Clezão, um apoiador de Jair Bolsonaro preso por ordem de Moraes em meio às investigações sobre atos antidemocráticos. Advogados e defensores do militante afirmam que houve violação ao devido processo legal, incluindo ausência de provas materiais robustas, restrição à defesa e prolongamento indevido da prisão preventiva.

A situação de Clezão tornou-se emblemática para os opositores do ministro, que acusam Moraes de conduzir um inquérito de características autoritárias, e de agir como delegado, promotor e juiz ao mesmo tempo, em processos com pouca transparência e amplo poder discricionário.

Moraes isolado?

Apesar de ainda contar com apoio dentro da Corte e respaldo de parte do Congresso, Moraes começa a enfrentar isolamento político crescente, inclusive entre antigos aliados. A recente articulação com setores do sistema financeiro e com figuras como o senador Davi Alcolumbre tem sido interpretada como uma tentativa de recompor pontes e buscar soluções políticas para o que já é visto como uma crise institucional latente.

Fontes próximas ao STF afirmam que o ministro está “na defensiva”, tentando preservar sua posição e preparar o terreno para o período pós-2026, quando mudanças profundas no cenário político brasileiro — e possivelmente no próprio Supremo — devem ocorrer.

Um futuro incerto

A trajetória de Alexandre de Moraes, marcada por protagonismo e confrontos, entra agora em uma fase de incerteza e desgaste. As sanções dos EUA, os processos no exterior e a insatisfação crescente em setores da sociedade colocam o ministro no centro de um embate que vai muito além das fronteiras brasileiras.

A pergunta que paira no ar é: até onde vai a resistência institucional — e até quando Moraes conseguirá sustentar sua posição diante do avanço das pressões internas e internacionais?

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Bruno Rigacci

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