Ex-prefeito de BH, Alexandre Kalil é condenado
Em um raro momento de lucidez institucional, a Justiça mineira condenou o ex-prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (2017–2022), por improbidade administrativa dolosa. O motivo: sua omissão diante de uma decisão judicial que determinava a abertura de vias públicas em um condomínio de luxo localizado no bairro Mangabeiras, conhecido como “Clube dos Caçadores” – III Parte.
Mesmo com ordem judicial para liberar o acesso às vias, Kalil optou por manter guaritas e restrições de circulação, favorecendo interesses particulares em detrimento do interesse público. A sentença, proferida pelo juiz Danilo Couto Lobato Bicalho, da 3ª Vara de Fazenda Municipal, reconheceu que o ex-prefeito atuou com dolo, ou seja, com plena consciência da ilegalidade de sua conduta.
As penas aplicadas a Kalil incluem:
Suspensão dos direitos políticos por 5 anos
Multa de R$ 100 mil por danos morais coletivos
Proibição de firmar contratos com o poder público, inclusive por meio de empresas das quais seja sócio
Além de Kalil, também foram condenados os representantes da Associação Comunitária do bairro, responsável pela administração do condomínio.
Defesa se esquiva, e acusa motivação política
Como já se tornou prática comum entre figuras públicas acusadas, Kalil alegou desconhecimento do caso e responsabilizou subordinados, dizendo que “não sabia do que se tratava”. Em tom político, afirmou ainda que a decisão judicial teria como objetivo barrar sua eventual candidatura ao governo de Minas Gerais nas eleições de 2026, nas quais, segundo ele, “lidera as pesquisas”. A frase, para muitos, arrancou risos e críticas.
Apesar do tom de campanha adotado em sua defesa, a condenação é de primeira instância e cabe recurso. Ainda assim, o promotor de Justiça Fábio Finotti, responsável pelo caso no Ministério Público de Minas Gerais, acredita que a decisão será mantida pelas instâncias superiores.
Contexto e crítica ao sistema
O caso lança luz sobre a conivência histórica de alguns gestores públicos com práticas que distorcem o uso do espaço urbano, privatizando vias públicas em benefício de elites locais. A condenação de Kalil, por mais que tardia, representa um avanço no combate à impunidade institucionalizada no país, especialmente em tempos em que a cúpula do Judiciário tem sido acusada de agir com parcialidade e conivência em casos de maior envergadura.
Se a justiça ainda serve para algo, que continue servindo — ao menos nesses episódios em que a lei, enfim, fala mais alto que os conchavos.