Vazam áudios de celular apreendido de Bolsonaro e a PF passa novo vexame

Conteúdos obtidos pela Polícia Federal (PF) a partir da análise de um celular apreendido do ex-presidente Jair Messias Bolsonaro (PL) revelam bastidores de sua reação às investigações sobre o caso das joias de origem saudita, além de sua atuação política nos bastidores do Partido Liberal. O aparelho foi apreendido em 2023 durante diligências autorizadas no âmbito de apurações sobre o suposto desvio de presentes recebidos durante o mandato presidencial.

Entre os principais registros estão áudios em que Bolsonaro ironiza as acusações de peculato — crime que envolve o uso indevido de bens públicos por servidor. Em uma gravação de abril de 2023, ele afirma:

“Indícios de desvio de recurso público. Que que é isso? Onde é que inventou isso, pô? Indícios pra me incriminar com peculato? É uma piada realmente”.

A fala ocorre durante uma conversa com Fábio Wajngarten, ex-secretário de Comunicação Social da Presidência. Bolsonaro demonstra irritação com o avanço das investigações e critica o que chama de tentativa injusta de criminalizá-lo.

No início de 2024, o Tribunal de Contas da União (TCU) reiterou que, na ausência de uma legislação clara, os presentes recebidos por presidentes e vices em cerimônias oficiais não são automaticamente incorporados ao patrimônio público — ponto central da disputa envolvendo as joias sauditas.

Irritação com a imprensa e rótulos políticos

Os áudios também revelam o desconforto do ex-presidente com o tratamento que recebe da mídia. Em uma mensagem, Bolsonaro reclama da rotulagem ideológica:

“Os caras vão manter isso o tempo todo né, que é só extrema direita. Falou comigo, é extrema direita. O Trump também deve ser extrema direita.”

Atuação ativa no PL e apoio a aliados

Mesmo fora do Palácio do Planalto, Bolsonaro continuou se envolvendo intensamente na articulação política do Partido Liberal. Em trechos das conversas analisadas pela PF, ele orienta aliados, interfere em disputas internas e manifesta apoio a candidaturas em diversos estados.

Em um dos registros, o ex-presidente tenta conter tensões no diretório do PL no Nordeste. Em outro, expressa apoio à candidatura de Gilson Machado à prefeitura do Recife (PE), apesar da derrota do aliado nas eleições municipais de 2024.

Pedido de CPI contra Alexandre de Moraes

Uma das revelações mais sensíveis refere-se a uma conversa com o deputado Hélio Lopes (PL-RJ). Bolsonaro incentiva o parlamentar a assinar um pedido de abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes:

“Eu assinaria”, diz Bolsonaro no áudio, em tom enfático. Segundo o material, a declaração foi determinante para que Lopes aderisse à proposta.

Polícia Federal conclui análise sem indiciar Bolsonaro

Apesar da repercussão das gravações, a Polícia Federal, até o momento, não encontrou elementos suficientes para indiciar Bolsonaro no caso das joias. Aliados do ex-presidente têm classificado o resultado como um “vexame” para a investigação, argumentando que os áudios apenas reforçam a postura já conhecida do ex-mandatário.

A defesa de Bolsonaro afirma que o conteúdo dos áudios comprova sua inocência e reafirma que o ex-presidente agiu dentro da legalidade durante todo o seu mandato. A PF deve encaminhar nas próximas semanas um relatório final ao Supremo Tribunal Federal, que avaliará se há elementos para a continuidade do processo judicial.

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Bruno Rigacci

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