PF encontra dinheiro escondido dentro de sapato de parlamentar baiano

A quinta fase da Operação Overclean, deflagrada nesta quinta-feira (17) pela Polícia Federal, revelou mais um episódio inusitado e preocupante no esquema investigado de corrupção e desvio de recursos públicos na Bahia. Durante cumprimento de mandado de busca e apreensão, agentes encontraram notas de dinheiro vivo escondidas dentro de um sapato na residência do vereador Francisquinho Nascimento (União-BA), em Campo Formoso.

Francisquinho é primo do deputado federal Elmar Nascimento (União-BA), atual líder do Centrão na Câmara dos Deputados, e figura central em um suposto esquema envolvendo fraudes em licitações, desvio de verbas públicas, lavagem de dinheiro e favorecimento a empresas com contratos no município.

A operação também mirou o prefeito de Campo Formoso, Elmo Nascimento, irmão de Elmar, cujo gabinete foi alvo de mandado de busca e apreensão. A Polícia Federal afirma que os três fazem parte de um núcleo familiar ligado diretamente a recursos provenientes de emendas parlamentares e repasses da Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba).

Histórico de escândalos

Francisquinho Nascimento, que atualmente exerce mandato de vereador, já havia sido preso em dezembro de 2024 após tentar se livrar de uma mala com mais de R$ 200 mil jogando-a pela janela de casa durante outra ação da PF. Na época, foi solto dias depois. Antes de assumir a cadeira no legislativo municipal, atuava como secretário-executivo da prefeitura de Campo Formoso.

Bloqueio milionário e conexões em Brasília

O Supremo Tribunal Federal (STF) autorizou o bloqueio de R$ 85,7 milhões em contas bancárias ligadas a pessoas físicas e jurídicas suspeitas de envolvimento nos crimes. A ofensiva policial atingiu diversas cidades da Bahia, além de alvos em Brasília (DF) e Petrolina (PE).

Os mandados foram expedidos para apurar crimes como:

  • Organização criminosa

  • Corrupção ativa e passiva

  • Peculato

  • Obstrução de investigações

  • Lavagem de dinheiro

  • Fraude em licitações

O papel de Elmar Nascimento

Embora Elmar Nascimento não tenha sido alvo direto da operação, o nome do parlamentar surge com destaque na investigação. Segundo os autos, ele teria indicado emendas parlamentares que resultaram em repasses sob suspeita, especialmente para a prefeitura de Campo Formoso — sua base eleitoral.

As apurações incluem convênios celebrados entre a Codevasf e o município, com foco em acordos firmados em 2022 e processos licitatórios realizados em 2023. A PF investiga o possível direcionamento de obras e contratos a empresas previamente escolhidas, com pagamento de propinas e desvios em obras públicas.

Codevasf se manifesta

Em nota oficial, a Codevasf declarou que “mantém compromisso com a elucidação dos fatos e com a integridade de suas ações”. A empresa tem sido constantemente citada em operações de combate à corrupção por causa do uso de suas estruturas como instrumento de repasse de recursos de emendas do orçamento secreto.

Clima de tensão no Centrão

A operação gera novo desgaste político para o Centrão, que controla parte expressiva do orçamento público e das emendas parlamentares. O envolvimento da família de Elmar Nascimento — uma das figuras mais influentes do grupo — pode provocar abalos na articulação política em Brasília, especialmente em um momento em que o governo Lula busca apoio no Congresso para avançar com pautas econômicas e fiscais.

Mais fases da operação não estão descartadas, e fontes ligadas à investigação indicam que há indícios de ramificações em outros municípios e novos agentes políticos sob escrutínio.

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Bruno Rigacci

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