USP diz que manifestação da esquerda teve mais pessoas do que o ato com Bolsonaro na Paulista
Uma manifestação promovida por movimentos de esquerda nesta quinta-feira (10), na Avenida Paulista, teria reunido 15,1 mil pessoas, segundo o Monitor do Debate Político, projeto ligado ao Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento) e à Universidade de São Paulo (USP). O número causou estranheza, principalmente nas redes sociais, onde a estimativa foi amplamente questionada por internautas e opositores políticos.
De acordo com os organizadores da medição, o pico de público foi registrado por volta das 19h30, com margem de erro de 1,8 mil para mais ou para menos. Na avaliação do grupo, trata-se da primeira vez, em um intervalo recente, que uma mobilização da esquerda atraiu mais participantes do que uma da direita, com base em metodologia própria.
“Foi a primeira vez, em período próximo, que uma manifestação da esquerda superou uma manifestação da direita”, diz a nota oficial da equipe do Monitor.
A comparação refere-se a um ato realizado também na Avenida Paulista em 29 de junho, quando apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) reuniram 12,4 mil pessoas, segundo os mesmos critérios do Monitor.
Questionamentos sobre isenção e metodologia
Apesar do caráter acadêmico da iniciativa, a imparcialidade do Monitor do Debate Político tem sido questionada por setores da sociedade civil e da política. Críticos apontam que o grupo, apesar de sediado em uma universidade pública, tem histórico de posicionamentos ideológicos alinhados à esquerda, o que levantaria dúvidas sobre a neutralidade dos números divulgados.
Nas redes, o ceticismo tomou conta:
“Quinze mil pessoas? Onde? Alguém viu isso tudo? Quem acredita?”, publicou um internauta, ecoando uma série de comentários semelhantes que viralizaram após a divulgação dos dados.
Além disso, especialistas independentes apontam que medir público em manifestações de rua é uma tarefa complexa, com ampla margem para distorções, especialmente quando baseada em imagens e estimativas pontuais. A metodologia do Monitor inclui uso de vídeos, drones e cálculos sobre densidade de pessoas por metro quadrado, mas não é auditada de forma independente.
Motivações políticas e guerra de narrativas
No cenário polarizado brasileiro, estimativas como essa acabam se tornando mais do que simples dados estatísticos — viram instrumentos de disputa política. A afirmação de que a esquerda teria “superado” a direita num dos maiores palcos de manifestações do país, como a Avenida Paulista, alimenta narrativas estratégicas para os dois lados do espectro ideológico.
Se por um lado a esquerda comemora o suposto “retorno às ruas”, a direita responde com ceticismo e denúncias de manipulação.
O que se sabe, de fato, é que nenhum dos lados deve se contentar com estimativas isoladas como única base para avaliar sua força popular. A verdadeira legitimidade continua vindo das urnas — e, até lá, a guerra de versões e números está longe de acabar.