Novo advogado de Filipe Martins choca o país ao revelar “tortura” e desnudar a “farsa”
O caso envolvendo o ex-assessor especial da Presidência Filipe Martins, próximo de Jair Bolsonaro, está ganhando novos contornos à medida que a defesa torna públicas alegações de abusos institucionais cometidos contra ele. O novo advogado de Martins, Jeffrey Chiquini, afirmou nesta quarta-feira (9) que seu cliente é vítima de uma perseguição judicial “inadmissível” e que as acusações teriam origem em uma delação falsa.
“O que aconteceu foi algo realmente inadmissível, sem precedentes na história do Brasil. Trata-se de um caso de deliberação criminosa, em que agentes do Estado usaram a máquina pública para fabricar uma narrativa”, disse Chiquini em coletiva de imprensa.
Segundo o advogado, Martins foi citado de forma indevida em delações premiadas, em especial a do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. Chiquini sustenta que a menção a seu cliente foi feita sob pressão e que há “provas materiais e testemunhais” de que Martins sequer teve envolvimento com os fatos investigados.
A linha da defesa
A defesa alega que:
Filipe Martins foi alvo de busca e apreensão com base em delações “incongruentes” e não corroboradas.
Mauro Cid teria alterado versões de sua delação sob influência externa.
Houve tentativa deliberada de ligar Martins a supostos planos de ruptura institucional sem qualquer evidência concreta.
O caso é exemplo de “pesca probatória” – prática condenada pela jurisprudência, em que se investiga para depois buscar provas.
Chiquini afirma ainda que as acusações estão sendo desconstruídas com o avanço das investigações e a obtenção de documentos que comprovariam a inocência de seu cliente.
“A história é surreal e criminosa, mas acredito piamente que, ao final, a verdade irá prevalecer”, declarou o advogado.
Contexto político e jurídico
O nome de Filipe Martins apareceu em investigações sobre a tentativa de articulação golpista após a derrota de Jair Bolsonaro nas eleições de 2022. Considerado um dos articuladores da ala ideológica do governo Bolsonaro, Martins era próximo a figuras como Olavo de Carvalho e representava a ala mais conservadora da política externa brasileira à época.
O Supremo Tribunal Federal autorizou medidas contra ele com base em depoimentos e indícios levantados pela Polícia Federal, mas a defesa insiste que essas ações foram precipitadas e politicamente motivadas.
Silêncio oficial e tensões institucionais
Procurado, o STF não comentou as novas alegações da defesa. A Procuradoria-Geral da República também não se manifestou sobre a suposta inconsistência das delações. Internamente, porém, cresce o desconforto com o impacto político das delações que estão sendo desmentidas ou relativizadas em instâncias judiciais.
O caso Filipe Martins soma-se à crescente pressão sobre o sistema de Justiça brasileiro, já tensionado pelas manifestações de líderes internacionais, como o presidente americano Donald Trump, que voltou a afirmar que Bolsonaro e seus aliados são vítimas de “caça às bruxas”.
Análise: narrativa de perseguição ganha fôlego
A nova estratégia da defesa de Filipe Martins se insere num esforço mais amplo da direita brasileira de reforçar a narrativa de que ex-integrantes do governo Bolsonaro estão sendo perseguidos injustamente. O argumento da “inversão jurídica” — onde delações substituem provas — vem sendo repetido por aliados e usado para contestar a legitimidade das investigações.
Se comprovada a falsidade ou a inconsistência das acusações contra Martins, o caso pode se transformar num dos principais focos de desgaste institucional do sistema judiciário desde a Operação Lava Jato.