Bolsonaro choca o país ao publicar nas redes sociais a escalada da perseguição que sofre: “Tortura diária”

A crise diplomática entre Brasil e Estados Unidos ganhou novo capítulo nesta quarta-feira (9), após o presidente americano Donald Trump voltar a se manifestar publicamente em defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro. Em publicação no Truth Social, Trump escreveu:

“Deixem o grande ex-presidente do Brasil em paz. Caça às bruxas!!!”

A fala ecoa seu próprio discurso de vitimização política nos Estados Unidos e reforça a retórica de que Bolsonaro seria alvo de uma perseguição judicial orquestrada. O tom da mensagem — mais duro que a anterior — aumenta a temperatura de um embate já delicado entre os dois países.

Pouco depois da nova declaração, o próprio Bolsonaro fez uma rara manifestação longa nas redes sociais. Em tom emocional e incisivo, publicou um texto no qual se diz vítima de “tortura diária”, classificando as investigações da Polícia Federal como uma “pesca probatória” com objetivo político.

Trechos da manifestação de Bolsonaro:

  • Acusa a Polícia Federal de buscar pretextos para criar um “enredo”.

  • Alega que o confisco de seu passaporte o impediu de exercer atividade política internacional.

  • Critica delações premiadas, em especial a de Mauro Cid, citando supostas “versões modificadas”.

  • Relembra a facada que sofreu em 2018 e diz que sua última cirurgia foi mais delicada.

  • Afirma interferência do Partido Democrata nas eleições brasileiras de 2022.

  • Ataca decisões do TSE e do STF, e afirma que o “Brasil está cansado”.

Clima de tensão institucional

A nova manifestação pública de Trump, agora usando o termo “witch hunt” (caça às bruxas), acirra o clima político e pode dificultar ainda mais a relação entre os governos Lula e Trump. A expressão remete diretamente ao discurso usado por Trump ao longo de seus próprios processos judiciais nos EUA — um paralelo que Bolsonaro adota como estratégia retórica.

No Palácio do Planalto, a ordem continua sendo evitar escalada. Mas fontes do Itamaraty confirmam que o governo brasileiro já estuda emitir uma resposta institucional caso o tom continue subindo — e que alianças com a Europa e os BRICS estão sendo mobilizadas como forma de contenção diplomática.

Efeito político interno: base bolsonarista mobilizada

A repercussão entre apoiadores de Bolsonaro foi imediata. Grupos bolsonaristas, influenciadores e parlamentares da oposição usaram o texto como combustível para reaquecer a militância. A narrativa de “perseguição implacável” voltou com força às redes, alimentada agora com apoio explícito do presidente da maior potência do planeta.

Hashtags como #BolsonaroPerseguido, #TrumpTemRazão e #CaçaÀsBruxas ganharam tração no X (antigo Twitter) e no Telegram, com vídeos antigos do ex-presidente sendo republicados como exemplo de sua “resistência”.

Lula em silêncio, mas monitorando

Até o momento, o presidente Lula não comentou publicamente a nova fala de Trump. Em seu entorno, a avaliação é que qualquer resposta direta pode fortalecer o discurso de Bolsonaro. Mesmo assim, há preocupação real de que esse apoio externo amplifique o impacto político da oposição conservadora, sobretudo em ano pré-eleitoral.

Leitura internacional: confronto de narrativas democráticas

Especialistas internacionais apontam que o embate ultrapassa as fronteiras do Brasil. A estratégia de Trump de apoiar líderes ideológicos é vista como parte de um redesenho do eixo conservador internacional. O paralelo entre as acusações contra Trump e Bolsonaro permite uma narrativa simplificada: dois líderes de direita combatidos por sistemas supostamente “corrompidos”.

Enquanto isso, a diplomacia brasileira tenta sustentar uma imagem institucional de estabilidade democrática, enquanto lida com um cenário de instabilidade interna crescente.

Análise: quando a política externa se torna palco da disputa doméstica

O apoio de Trump a Bolsonaro não é apenas simbólico: ele cria um precedente perigoso de ingerência política direta. Ainda que o gesto não tenha consequências jurídicas, ele afeta o equilíbrio diplomático, contamina a política interna e desafia o Brasil a responder sem parecer frágil — mas também sem alimentar a polarização.

Com as eleições de 2026 à vista, a direita brasileira deve explorar intensamente esse apoio como capital político. A frase “Caça às bruxas” já virou mantra entre bolsonaristas, e pode se tornar lema de campanha.

O que parecia um episódio isolado agora se desenha como um confronto duradouro entre dois projetos de mundo — um centrado na institucionalidade democrática; outro, na mobilização populista e internacionalizada.

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Bruno Rigacci

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