O “surto” de Bonner com a queda do JN

Durante o Festival Cannes Lions 2025, na França, o jornalista William Bonner, editor-chefe e apresentador do Jornal Nacional, protagonizou mais um episódio que escancara o desconforto da velha mídia diante do novo cenário informativo impulsionado pelas redes sociais.

Em tom de desabafo — e, para muitos, de lamento — Bonner classificou as plataformas digitais como um “enorme problema para a humanidade“, responsabilizando a internet não apenas pela fragmentação da opinião pública, mas também pela queda histórica na audiência do Jornal Nacional, que segue batendo recordes negativos.

Sem qualquer autocrítica sobre a perda de credibilidade e o crescente afastamento do público em relação à linha editorial da TV Globo, Bonner preferiu mirar o comportamento da sociedade conectada:

Estamos lidando com esse mal, com as bolhas, com a intolerância crescente, com as pessoas se recusando a ouvir os diferentes e ainda tornando os diferentes seus alvos, porque inimigos“, afirmou.

A declaração, recheada de termos vagos e pessimistas, parece ignorar que o ambiente digital também ampliou vozes antes silenciadas e democratizou a produção de conteúdo, justamente o que incomoda veículos que por décadas detiveram o monopólio da narrativa.

Bonner ainda se colocou como uma espécie de guia moral da informação, afirmando que o Jornal Nacional não serve apenas para noticiar, mas para “organizar” e “contextualizar” os fatos — ou seja, interpretá-los conforme os critérios da emissora:

Ele vai organizar as coisas, ele vai contextualizá-las“, disse o apresentador.

Para muitos, a fala beira o autoritarismo informativo. A mensagem subentendida é clara: a Globo ainda acredita que deve dizer como o público deve pensar, e não apenas o que está acontecendo.

A reação nas redes sociais não demorou. Internautas ironizaram o “surto” do jornalista e apontaram a fala como mais uma tentativa de desacreditar a internet — espaço onde, ao contrário da TV, os usuários têm voz ativa e podem questionar a narrativa dominante.

O incômodo de Bonner é compreensível: o mundo mudou. E, para quem por décadas falou sem ser contestado, lidar com a liberdade do outro é um desafio que ainda parece insuportável.

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Bruno Rigacci

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