Cadê as “48 horas” para Cantanhêde se explicar?
A jornalista Eliane Cantanhêde, comentarista da GloboNews, se viu no centro de uma polêmica após uma declaração feita durante o programa Em Pauta, exibido na última sexta-feira (20). Ao comentar os desdobramentos do conflito entre Irã e Israel, Cantanhêde levantou questionamentos sobre a discrepância no número de vítimas causadas pelos ataques dos dois lados.
A frase em questão, dita ao vivo, foi:
“Por que os mísseis de Israel destroem Gaza, matam milhares e milhares de pessoas, e os mísseis que saem do Irã e efetivamente caem em Israel não matam ninguém? É uma mortezinha daqui, outra dali, 23 feridos daqui, 40 dali…”.
A repercussão foi imediata nas redes sociais. Muitos usuários interpretaram a fala como insensível e, em alguns casos, como um questionamento sobre a falta de mortes em território israelense, o que gerou acusações de parcialidade e desinformação.
Retratação e reações
Após a repercussão negativa, Eliane Cantanhêde se retratou, afirmando que sua intenção era levantar um debate sobre a diferença de poderio militar e os impactos desiguais dos ataques. Segundo a jornalista, a fala foi tirada de contexto:
“Minha intenção nunca foi lamentar a ausência de mortes, mas sim refletir sobre os diferentes efeitos dos ataques militares entre duas forças claramente assimétricas”, disse, em nota.
A tentativa de esclarecimento, no entanto, não impediu que figuras públicas criticassem a declaração original. O deputado estadual Lucas Bove (PL-SP) publicou em suas redes sociais uma crítica contundente, ironizando o pedido de desculpas:
“Fica tranquila, não precisa se desculpar. Afinal, você não é de direita — pode fazer discurso de ódio à vontade. Não terá 48 horas para responder, não será intimada pelo STF, nem terá suas redes bloqueadas”, escreveu o parlamentar.
Especialistas apontam erro de comunicação
Analistas da área de comunicação e conflito internacional apontam que, embora o comentário possa ter tido intenção analítica, a forma como foi formulado gerou ambiguidade e abriu espaço para interpretações negativas.
“Quando se trata de conflitos armados e perdas humanas, é fundamental que a linguagem seja precisa. A escolha de palavras pode parecer trivial, mas carrega peso político e emocional significativo”, avaliou a professora de jornalismo internacional da UFRJ, Mariana Rezende.
Contexto do conflito
O comentário de Cantanhêde ocorreu em meio a uma nova escalada entre Irã e Israel, após relatos de trocas de mísseis entre os países. A ofensiva do Irã foi amplamente interceptada por sistemas de defesa israelenses e aliados ocidentais, como Estados Unidos e Reino Unido, o que contribuiu para a menor quantidade de vítimas.
Por outro lado, os ataques israelenses em Gaza têm causado centenas de mortes civis, segundo organizações internacionais, o que vem motivando críticas de líderes mundiais e entidades humanitárias.
GloboNews não se manifesta oficialmente
Até o momento, a GloboNews não divulgou posicionamento oficial sobre o episódio. Internamente, segundo fontes ouvidas pela reportagem, a direção da emissora considera que a jornalista já prestou os esclarecimentos necessários.
A polêmica, no entanto, reaquece discussões sobre isenção da imprensa, o papel da mídia em coberturas internacionais e os limites da liberdade de expressão no jornalismo opinativo.