Presidente Chega, André Ventura, promete investigar “influência” de Gilmar em Portugal
O presidente do partido português Chega, André Ventura, afirmou nesta segunda-feira (23) que realizará uma investigação independente sobre o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes, com foco em sua “influência, patrimônio e rede de interesses” em Portugal. A declaração foi feita por meio da rede social X (antigo Twitter) e trouxe críticas diretas ao ministro, ao Fórum de Lisboa — evento promovido pelo Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP), fundado por Gilmar — e ao governo brasileiro.
“Depois de milhares de denúncias recebidas, o Chega irá fazer uma investigação própria […] Todos sabemos que o Governo Lula e os seus amigos tiveram e ainda têm em Portugal um lote grande de amigos que lhes apara os golpes […] Esse tempo, no que depender do Chega, vai acabar”, escreveu Ventura.
O foco do ataque: o “Gilmarpalooza”
O alvo das críticas de Ventura é o Fórum de Lisboa, informalmente apelidado de “Gilmarpalooza”, uma conferência anual realizada pelo IDP com a participação da elite política, jurídica e empresarial do Brasil. A edição de 2025 está marcada para os dias 2, 3 e 4 de julho e contará com a presença de pelo menos seis ministros do STF: Gilmar Mendes, Luís Roberto Barroso, Alexandre de Moraes, André Mendonça, Dias Toffoli e Flávio Dino.
Apesar do discurso acadêmico que cerca o evento, a presença de empresários com interesses diretos em processos que tramitam no STF — como o banqueiro André Esteves, do BTG Pactual — tem alimentado questionamentos sobre possíveis conflitos de interesse e promiscuidade entre os Poderes.
O BTG, por exemplo, é parte em ao menos dois processos no Supremo. Esteves, que chegou a ser preso na Operação Lava Jato, teve inquérito trancado por decisão de Gilmar Mendes, que também anulou uma busca e apreensão contra o banqueiro.
Críticas crescentes
As críticas ao evento e ao seu formato não são novas, mas vêm ganhando fôlego. Em 2024, o colunista João Paulo Batalha, especialista em políticas anticorrupção e colunista da revista Sábado, chamou o fórum de uma “orgia de promiscuidade”.
“Todos os anos, Lisboa acolhe um encontro de que nunca ouviu falar, mas que é uma autêntica parada de poderes promíscuos”, escreveu Batalha.
Em veículos brasileiros como Crusoé e O Antagonista, o fórum é frequentemente retratado como um espaço opaco onde autoridades do Judiciário se reúnem com empresários e políticos longe da fiscalização pública.
O que diz a organização
A organização do Fórum de Lisboa sustenta que a escolha dos participantes segue critérios de relevância “acadêmica e técnica”, e que o evento visa promover debates de alto nível sobre temas jurídicos e institucionais. Não há, até o momento, posicionamento público do IDP ou do ministro Gilmar Mendes sobre as declarações de André Ventura.
Interferência internacional?
A manifestação do líder do Chega levanta a possibilidade de tensão diplomática, dado que Ventura é deputado no Parlamento português e o alvo da investigação é um ministro da mais alta corte do Brasil. A fala sobre a “ditadura em que o Brasil se está a tornar” também coloca lenha nas críticas conservadoras internacionais ao governo Lula e ao Supremo.
A expectativa agora gira em torno da repercussão oficial por parte do STF, do governo brasileiro e das autoridades portuguesas, caso a investigação do Chega avance de forma institucional.