Irã usa emoji para se referir ao Brasil e negocia venda de caviar

Dois meses antes de lançar seu histórico contra-ataque a Israel em abril deste ano, o Irã discutia com o governo brasileiro o interesse em exportar caviar e frutas ao país. Em fevereiro, o embaixador iraniano no Brasil, Abdollah Nekounam Ghadiri, esteve no gabinete do ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, para apresentar os produtos agrícolas de interesse da república islâmica, entre eles romã, maçã, kiwi e o tradicional caviar persa.

Apesar de ser um item pouco consumido no mercado brasileiro — com importações girando em torno de apenas 25 kg ao ano, segundo o CEO da empresa Kenoz, Andres Vial Filho — o caviar foi pauta de reuniões formais com dezenas de representantes dos dois países. “O Irã é um dos nossos maiores parceiros no Oriente Médio”, destacou Fávaro, que voltou a tratar do tema em abril, já com o ministro da Agricultura do Irã.

“O Brasil já cumpriu três das cinco etapas técnicas necessárias para a habilitação da importação de caviar”, informou o governo brasileiro na ocasião.

Diplomacia em meio à tensão internacional

As conversas comerciais ocorrem em meio à escalada de tensão entre Irã e Israel. Em abril, o Irã lançou seu primeiro ataque direto contra território israelense, como retaliação a um bombardeio atribuído a Tel Aviv contra seu consulado na Síria. O governo brasileiro, por sua vez, condenou a ofensiva israelense, mas evitou repudiar a retaliação iraniana, o que não passou despercebido por autoridades de Israel.

Nas redes sociais, a embaixada iraniana em Brasília vem reforçando a “amizade” entre os dois países, sempre acompanhada da hashtag #amizadebrasilirão, das bandeiras do Brasil e do Irã e de um emoji de aperto de mãos. A representação diplomática frequentemente destaca o histórico de relações bilaterais, lembrando que o Irã foi o primeiro país a inaugurar uma embaixada na capital brasileira, em 1960, durante o governo de Juscelino Kubitschek.

“A inauguração desta chancelaria é simples demais para expressar a amizade entre o Irã e o povo do Brasil”, teria dito JK na época. O Irã publicou a citação em suas redes no último dia 7 de junho.

Redes e propaganda

Além de promover a relação com o Brasil, a embaixada iraniana também tem usado as redes sociais para atacar Israel, acusando o país de manter armas nucleares e a mídia ocidental de distorcer os fatos do conflito. Um dos posts recentes chegou a ser derrubado por divulgar informações falsas sobre a guerra.

A intensificação da relação comercial entre Brasil e Irã, especialmente em áreas sensíveis como agricultura e alimentos de luxo, ocorre num momento em que o governo Lula busca reafirmar uma política externa multipolar, dialogando tanto com o Ocidente quanto com parceiros estratégicos do Oriente Médio e da Ásia. A presença de adidos agrícolas brasileiros em Teerã e os investimentos bilaterais indicam que, ao menos do ponto de vista comercial, o diálogo entre os países segue firme — ainda que em meio a um cenário internacional cada vez mais volátil.

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Bruno Rigacci

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